Assim como no blog Fortaleza Nobre, vou focar no resgate do passado do nosso Ceará.
Agora, não será só Fortaleza, mas todas as cidades do nosso estado serão visitadas! Embarque você também, vamos viajar rumo ao passado!

O nome Ceará significa, literalmente, canto da Jandaia. Segundo o escritor José de Alencar, Ceará é nome composto de cemo - cantar forte, clamar, e ara - pequena arara ou periquito (em língua indígena). Há também teorias de que o nome do estado derivaria de Siriará, referência aos caranguejos do litoral.

domingo, 29 de julho de 2012

José de Alencar - O querido Cazuza




José Martiniano de Alencar nasceu em Messejana (na época Mecejana), no dia 1º de maio de 1829.

Filho do padre e ilustre senador do império, José Martiniano Pereira de Alencar, irmão do diplomata Leonel Martiniano de Alencar (Barão de Alencar), e pai de Augusto Cochrane de Alencar. José de Alencar nasceu
de uma união ilícita e particular do padre com a prima Ana Josefina de Alencar. Quando criança e adolescente, era tratado em família por Cazuza, mais tarde, adulto, ficou conhecido nacionalmente como José de Alencar, um dos maiores escritores românticos do Brasil.
Foi casado com Georgiana Cochrane*, filha de um médico inglês, teve seis filhos (Augusto, Clarisse, Ceci, Elisa, Mário e Adélia). Para eles, deixou a propriedade em Fortaleza. Para a literatura nacional, o olhar encapelado e indagador..


Quando José de Alencar nasceu, Mecejana era um município vizinho a Fortaleza. A família transferiu-se para a capital do Império do Brasil, Rio de Janeiro, pois José Martiniano Pereira de Alencar, assumiu o cargo de senador do Rio de Janeiro em 1830 e José de Alencar, então com onze anos, foi matriculado no Colégio de Instrução Elementar. Em 1844, matriculou-se nos cursos preparatórios à Faculdade de Direito de São Paulo, começando o curso de Direito em 1846. Fundou, na época, a revista Ensaios Literários, onde publicou o artigo 'Questões de estilo'. Formou-se em direito, em 1850, e, em 1854, estreou como folhetinista no Correio Mercantil. Em 1856 publica o primeiro romance, Cinco Minutos, seguido de A Viuvinha em 1857. Mas é com O Guarani em (1857) que alcançará notoriedade. Estes romances foram publicados todos em jornais e só depois em livros.



183 anos sem José de Alencar

O Brasil tem que cara? No princípio eram índios, depois brancos colonizadores, que além da força bruta e de outra língua, trouxeram negros escravos. Da mistura, surgiram caboclos, mulatos, cafuzos e pardos. Hoje somos também nortistas e sulistas; urbanóides e matutos; descendentes, radicados, assentados: brasileiros, enfim.

Se com o tempo esse mosaico revelou alguma forma, foram necessárias mãos que ordenassem suas peças. Entre as mais notórias destacaram-se as do escritor cearense José de Alencar. De pena em punho, Alencar escreveu obras importantes como “O Guarani”, “Iracema”, “O Gaúcho”, “O Sertanejo” e várias outras que não apenas consolidaram a estética romântica no Brasil, mas, em última análise, contribuíram significativamente para a construção de uma identidade nacional.




Tomando para si a ambiciosa tarefa de desenhar um amplo panorama da realidade no Brasil, o escritor resgatou de forma pioneira temas e motivos locais, desde costumes da sociedade burguesa do Rio de Janeiro (onde morou boa parte da vida) até cenários e personagens indianistas e regionais, descritos com vocabulário e sintaxe típicos do país, em oposição ao estilo lusitano vigente na época.

Nascido em um sítio em Messejana, em 01 de maio de 1829, José Martiniano de Alencar foi fruto da união proibida entre seu pai homônimo (então padre e deputado pela província do Ceará) e a prima deste, Ana Josefina de Alencar - “por fragilidade humana", como o próprio declarou no testamento. Dos oito filhos, foi o primogênito, apelidado de Cazuza (que significa “moleque”). Depois dos primeiros anos da infância, mudou-se definitivamente com a família para o Rio de Janeiro, onde Alencar, o pai, assumiu posição no Senado. Em 1944, o jovem transfere-se para São Paulo, para cursar a Faculdade de Direito daquele Estado. Introvertido, mantinha-se alheio à rotina boêmia vivida pelos colegas do curso preparatório, entre eles um que também ficaria famoso: Álvares de Azevedo.




O escritor José de Alencar consolidou a estética romântica no Brasil e contribuiu significativamente para a construção de uma identidade nacional




Tinha 17 anos incompletos quando matriculou-se na Faculdade, já ostentando a característica barba cerrada, que acentuava ainda mais seu semblante taciturno. Na Academia, conheceu clássicos da literatura mundial e seus autores, entre filósofos, poetas, romancistas e tratadistas da retórica e da política. Devora tudo com a avidez dos grandes, consolidando uma base de conhecimentos fundamental para sua trajetória literária - está sempre conciliada com a prática jurídica, a qual nunca abandonou.


Em 1847 o pai Senador, muito doente, voltou ao Ceará, assistido pelo filho. Na ocasião, o jovem Alencar conheceu os primeiros sintomas da tuberculose, mazela que o acompanharia por 30 anos. O reencontro com a terra natal trouxe recordações de infância e fixou perenemente na memória do escritor a paisagem local. É esse cenário nordestino que aparece em um de seus romances mais importantes: Iracema. A estréia na literatura ocorreu pelas vias do jornalismo, quando se inicia como folhetinista no Correio Mercantil. Às crônicas seguiram-se suas primeiras obras: Cinco Minutos (1856) e A Viuvinha (1857) - ambos romances urbanos. Mas é com O Guarani , também lançado em 1857, que José de Alencar alcança notoriedade definitiva.




Ao passo que o índio Peri encarna o arquétipo do herói romântico - incorruptível, bom, belo e justo -, sua possível união amorosa com a jovem branca Cecília, sugerida ao final do livro, representa a miscigenação fundadora de toda a sociedade brasileira. Mas não é preciso ir tão longe para explicar o sucesso de público da obra. Antes de mais nada, trata-se de uma história de amor, permeada de aventura e transcorrida em cenário selvagem e exótico. Ao lado dos romances “Iracema” (a virgem dos lábios de mel que inspirou duas esculturas em Fortaleza) e “Ubirajara”, “O Guarani” responde pela inaugura da temática indianista na produção de Alencar.


Os romances alencarinos podem ser divididos ainda em outras três grandes temáticas: Urbano, que continuou sendo explorado em obras como “Lucíola”, “Senhora” e “Diva”; Histórico, no qual se encaixam trabalhos como “As Minas de Prata” e “A Guerra dos Mascates”; e Regionalista, com “O Gaúcho”, “O Sertanejo” e outros. Escreveu ainda algumas peças de teatro. Simultaneamente à carreira literária, Alencar permaneceu atuante no jornalismo e, posteriormente, na política - áreas em que se destacou pela personalidade polêmica (nesta última, porém, do lado Conservador, ao contrário de seu pai).


Crítico implacável da censura e defensor ferrenho de uma cultura nacional, não poupou sequer Dom Pedro II. Em um episódio famoso, Alencar ataca duramente a abordagem à temática indianista feita no poema épico “A Confederação dos Tamoios”, de Gonçalves de Magalhães, que lança mão de um personagem índio para tecer loas à dinastia monárquica portuguesa. O lançamento do livro havia sido integralmente apoiado pelo Imperador, que por tabela não escapou às alfinetadas de Alencar.

A rixa perdurou durante toda a vida política de Alencar, iniciada em 1861 (quando foi eleito Deputado Geral pelo Ceará, reelegendo-se outras três vezes). Chegou ao cargo de Ministro da Justiça (1868) e só não foi Senador, no ano seguinte, porque teve o nome vetado por Pedro II. Na biografia “O Inimigo do Rei”, escrita pelo jornalista Lira Neto, uma passagem deixa clara a dimensão da querela. Por ocasião da morte** de Alencar, em 1877, vítima de tuberculose, o monarca chega a soltar algumas palavras elogiosas ao talento do escritor, porém sem perder a provocação final: “mas ele era também um homenzinho bem malcriado!”.

Muito embora não haja maior atestado de credibilidade moral do que o insulto do próprio Imperador, mais certeiras foram as palavras do colega Machado de Assis, citando uma passagem de “Iracema”: “(...) a posteridade é aquela jandaia que não deixa o coqueiro, e que ao contrário da que emudeceu na novela, repete e repetirá o nome da linda tabajara e do seu imortal autor. Nem tudo passa sobre a terra”.


*A vida amorosa



Aos 25 anos, Alencar apaixonou-se pela jovem Chiquinha Nogueira da Gama, herdeira de uma das grandes fortunas da época. Mas o interesse da moça era outro: um rapaz carioca também muito rico. Desprezado, custou muito ao altivo Alencar recuperar-se do orgulho ferido. Somente aos 35 anos ele iria experimentar, na vida real, a plenitude amorosa que tão bem soube inventar para o final de muitos dos seus romances. Desta vez, paixão correspondida, namoro e casamento rápidos. A moça era Georgiana Cochrane, filha de um rico inglês. Conheceram-se no bairro da Tijuca, para onde o escritor se retirara a fim de se recuperar de uma das crises de tuberculose. Casaram-se em 20 de junho de 1864. Muitos críticos vêem no romance Sonhos d'ouro, de 1872, algumas passagens que consideram inspiradas na felicidade conjugal que Alencar parece ter experimentado ao lado de Georgiana.


**A Morte


Em 1876, Alencar leiloou tudo o que tinha e foi com Georgiana e os seis filhos para a Europa, em busca de tratamento para sua saúde precária. Tinha programado uma estada de dois anos. Durante oito meses visitou a Inglaterra, a França e Portugal. Seu estado de saúde se agravou e, muito mais cedo do que esperava, voltou ao Brasil.

A pesar de tudo, ainda havia tempo para atacar D. Pedro II. Alencar editou alguns números do semanário 'O Protesto' durante os meses de janeiro, fevereiro e março de 1877. Nesse jornal, o escritor deixou vazar todo o seu antigo ressentimento pelo imperador, que não o havia indicado para o Senado em 1869.

Mas nem só de desavenças vivia o periódico. Foi nele que Alencar iniciou a publicação do romance Exhomem - em que se mostraria contrário ao celibato clerical, assunto muito discutido na época. Escondido sob o pseudônimo Synerius, o escritor faz questão de explicar o título do romance Exhomem: "Literalmente exprime o que já foi homem".

Alencar não teve tempo de passar do quinto capítulo da obra que lhe teria garantido o lugar de primeiro escritor do Realismo brasileiro. Em 12 de dezembro de 1877, morre no Rio de Janeiro, aos 48 anos, sucumbido pela tuberculose (doença que o acompanhara por cerca de 30 anos). Ao saber de sua morte, o imperador D. Pedro II teria se manifestado assim: "Era um homenzinho teimoso''. Mais sábias seriam as palavras de Machado de Assis, ao escrever seis anos depois: "... José de Alencar escreveu as páginas que todos lemos, e que há de ler a geração futura. O futuro não se engana'' .


Créditos: Diário do Nordeste, Culturabrasil.pro.br e Jornal da Poesia

sábado, 21 de julho de 2012

Velho chefe índio




Férias escolares. Início da década de cinquenta. Estada em Caucaia, na residência dos tios Joanito e Clarice. Rua Coronel Correia, número 406, vizinha à casa do tenente Edson da Mota Correia, amigo daqueles meus familiares.
Aventura sensacional para qualquer moleque de então.
Idas à Bodega do Seu Alves, casado com Dona Odete e pai de Maria de Nazaré, comprar broa, bulim, quebra-queixo, mariola enrolada em palha de bananeira, suspiro, filhó e demais guloseimas.
Visitas a Seu Petrônio, tabelião, com morada e cartório no destacado casarão na entrada da cidade, para ouvi das histórias de sua terra natal, Uruburetama. Nelas, até Lampião, desejoso de invadir o município, não o fez por temer os uruburetamenses.
Artista na marcenaria e por todos requisitado, Seu João, marido de Dona Neném, presenteou-me com a miniatura de ônibus, confeccionado em madeira e flandre, cópia dos verdadeiros da Empresa Vitória que, até hoje, atende aos caucaienses.

Manhã cedo, a chocalhada das tropas de jumentos dos carvoeiros, vendendo carvão e lenha de porta em porta, alvoroçava a meninada. Com permissão dos tangedores, os jegues já aliviados da carga davam-nos montaria. Desde a Cancela de Fiscalização de Trânsito, o então popular “Pau-do-guarda”, até o final da via principal.
Emoção maior coube a dois fatos outros. Somente vistos em filmes do faroeste e, ali, realidade. Um Rifle Winchester 44, conhecido como “Papo Amarelo”, pertencente ao tenente Edson e índios verdadeiros da Tribo Tapeba.
Diariamente, alguns nativos daquela aldeia vinham ao Mercado Público.
À frente do grupo, um idoso, postura e passos firmes, comandava-o. Estatura mediana, porte atlético, cabelos esbranquiçados, tez queimada pelo Sol, olhar sereno e tranquilo. Uma espécie de cocar, com faixa de palha colorida, envolvia-lhe a cabeça e fixava algumas penas multicores. Somavam-se a ele os colares elaborados com sementes de plantas e dentes de animais e duas listras paralelas, em cores amarela e vermelha, pintadas na face, desde o centro de uma bochecha até ao da outra.
O grupo mercadejava caranguejos, mocororó - bebida fermentada de caju que produziam, frutas e artefatos de palha de carnaúba, como abanadores para fogões e fogareiros, cestos, urus, esteiras, vassouras, espanadores e demais utensílios caseiros usados à época, que confeccionavam.
Por mais de uma vez, quando tia Clarice adquiriu seus produtos, o velho chefe índio passou a mão em minha cabeça e desejou-me muita sorte na vida.
De volta às aulas, no Colégio Lourenço Filho, a professora Antonieta Acioly determinou para todos da classe a feitura da redação “Minhas férias”.
Nosso trabalho mereceu a leitura pela mestra e os colegas queriam saber tudo sobre aqueles ancestrais indígenas.
Creio, daí, o nascedouro da estima que empresto aos causos, causoeiros e contadores de histórias.

                                                                                                                                                               Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.
  

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Senador Pompeu


Antiga Estação Ferroviária de Senador Pompeu - Arquivo IBGE 1959

Suas origens remontam ao Século XVIII, quando por Sesmaria obtiveram terras os colonizadores Tomé Calado Galvão e Nicolau de Souza, consoante escritura datada de 23 de março de 1723. Essas terras constavam, individualmente, de dois lotes encravados nas margens do rio Codiá, contendo cada uma três léguas de fundo por uma de frente. As primeiras residências formam-se em torno da Casa-Grande, na fazenda pertencente a Tomé Carvalho, nascendo dessas moradias o Arraial do Codiá. Com o desenvolvimento das atividades agropastoris, evoluiu igualmente a estrutura urbana, assumindo o reduto proporções de avançadas perspectivas. 

Antiga Estação Ferroviária de Senador Pompeu - Acervo Osmar Filho

Evolução Política: A elevação do povoado à categoria de Vila ocorreu segundo Lei nº 332, de 3 de setembro de 1896, criando-se também o Termo Judiciário. A elevação à categoria de Município deu-se conforme Lei nº 659, de 22 de agosto de 1901. 
Igreja: As primeiras manifestações de apoio eclesial têm como precedente a edificação da primitiva capela cujo orago dedicou-se em honra de Nossa Senhora das Dores. Freguesia e Paróquia, respectivamente, datam de 2 de junho de 1919, consoante Ato firmado por D. Manuel da Silva Gomes, Bispo de Fortaleza, sendo seu primeiro vigário o padre Lino Aderaldo.

Centro de Senador Pompeu - Foto de Vantuilo Gonçalves

Devido a infra-estrutura ferroviária e localização central, Senador Pompeu, foi uma das cidades cearenses na qual foi instalado um dos Campos de Concentração no Ceará(ou mais conhecidos como os currais do governo) durante a seca de 1932.
O Município de Senador Pompeu conta atualmente com 04 distritos: Engenheiro José Lopes, São Joaquim do Salgado, Codiá e Bonfim.

O caminhão da foto destinava-se ao transporte de passageiros e cargas no interior do Ceará, entre Senador Pompeu e Crateús no ano de 1958. O veículo é um caminhão Chevrolet nacional, sobre o qual foi montada uma carroceria de madeira com dois compartimentos separados. Pertencia à Viação Coelho, de Jader Vieira Coelho e Silva - Arquivo do Memorial Fotográfico do Transporte Coletivo de Passageiros do Ceará

As terras hoje compreendidas no município de Senador Pompeu principiaram a ser povoadas quando da concessão de datas e sesmarias aos desbravadores, pioneiros do Ceará-Grande que levantaram casas de fazenda e dominaram os nativos. Nos séculos dezessete e dezoito inúmeras foram as concessões de terras das margens dos rios Banabuiú e Codiá, feitas pelos capitães-mores. 
Uma das mais importantes foi, sem dúvida, a outorgada aos 27 de março de 1723, pelo
então capitão-mor Manuel Francês, aos desbravadores Thomé Callado Gavão e Nicolau de
Souza.

Nas terras doadas aos dois pioneiros, três léguas para cada um, nas margens do Codiá, ergue-se a atual cidade de Senador Pompeu.

A Rua Santos Dumont em 1946 - Acervo de Vantuilo Gonçalves

A lei nº 332, de 3 de setembro de 1896, que criou o município, cujo território foi desmembrado do de Benjamim Constant, posteriormente Mombaça, criou também o termo judiciário, com a denominação de Senador Pompeu; a povoação humaitá foi elevada à categoria de vila com aquele topônimo.

No governo do Dr. Pedro Augusto Borges, Presidente do Estado, a vila é elevada à categoria de cidade (lei nº 659, datada de 22 de agosto de 1901). Em 1919, por provisão datada de 2 de junho, Dom Manuel da Silva Gomes criou a freguesia sob a invocação de Nossa Senhora das Dores. 


Acervo Osmar Filho

Senador Pompeu, comarca da segunda entrância desde 1948 (lei nº 213, de 9 de junho) passou a ter mais os distritos de Engenheiro José Lopes e São Joaquim do Salgado (ex-povoado de São Joaquim), criados pela lei nº 1.153, de 22 de novembro de 1951, sancionada pelo Governador Raul Barbosa, que estabelceu a divisão administrativa do Estado para vigorar até 31 de dezembro de 1953.

Gentílico: pompeuense ou senadorense

Edifícios que pertenceram a antigos agentes ferroviários em Senador Pompeu, cuja estação foi inaugurada em 2 de julho de 1900. Acervo Osmar Filho

Educação, cultura e turismo

O município contava com o Campus Avançado do Sertão Central-CASC, que pertencia a Universidade Estadual do Ceará-UECE oferecendo cursos de licenciatura plena em Letras, História e Ciências Exatas, mas que por descaso dos poderes públicos municipais da região foi fechado e está abandonado e depredado. Cerca de 13% da população é analfabeta e menos de 0,5% concluiu nível superior (dados do ano 2000).
A cidade possui uma biblioteca, um teatro simples, pertencente à igreja, havia um museu, que foi destruído por vândalos.
A produção cultural é viva e intensa. Sendo uma das cidades que mais se destacam no sertão central e no Estado do Ceará. Há vários grupos de dança de quadrilha, artesões, artistas plásticos, escritores, grupos teatrais, dramaturgos, produtores de trabalhos audiovisuais.
Uma das atrações turísticas é a ponte ferroviária, uma ponte trazida da Inglaterra, e a estação ferroviária.

Senador Pompeu - Ceará - Ponte Ferroviária
Acervo Reinaldo Holanda

Outra atração turística, de cunho religiosa, é a Caminhada da Seca. Uma romaria anual, que há 26 anos acontece em homenagem as vítimas do Campo de Concentração. Esta inicia-se na Igreja de Nossa Senhora das Dores e encerra-se no Cemitério da Barragem do Patu, ao lado do Açude Patu.




Créditos: Wikipédia, IBGE

terça-feira, 10 de julho de 2012

Icó - A terceira vila instalada no Ceará


As terras entre as serras do Cafundó, Camará e às margens do Rio Salgado eram habitadas por diversas etnias tapuias, entres elas os Icó, Icozinho, janduí e quixelô.

A colonização das terras de Icó data do final do século XVII e início do século XVIII. Os primeiros colonizadores da cidade eram conhecidos como "os homens do (Rio) São Francisco", que faziam parte de uma das frentes de ocupação do território cearense, a do "sertão-de-dentro", dominada pelos baianos, que serviu para tentar ocupar todo o interior cearense.

A entrada de Bartolomeu Nabo de Correia e mais 40 homens, chegou em 1683 e deu início à povoação conhecida como "Arraial Novo dos Icós", a sua primeira fase. Numa segunda fase, famílias se instalaram através das sesmarias e assim surgiram dois povoados às margens do Rio Salgado: o "Icó de Baixo" e o "Icó de Cima". Ambos, povoados dominados pelos membros das famílias Fonseca e Monte, respectivamente. Devido às constantes inundações, o povoado que prevaleceu foi o "Icó de Cima". Tanto na fase de descobrimento quanto na de assentamento, os conflitos com os índigenas foram constantes, até que a Igreja Católica interveio e conseguiu um tipo de pacificação. 

Cadeia pública construída em 1744. Hoje prece que é um centro cultural - Acervo de Clóvis Acário Maciel

A povoação foi elevada a vila em 1738, a terceira vila do Ceará, logo após Aquiraz e Fortaleza. Em 1842, obteve a categoria de cidade. Devido a sua importância econômica, Icó foi uma das cidades que tiveram projetos urbanísticos planejados na corte, Lisboa.

Com a intensificão e o sucesso da indústria da carne-seca e do charque no Ceará, Icó destacou-se durante esta áurea época como um dos três centros comerciais e de serviços do estado, juntamente com Sobral e Aracati, devido a abundância de água, localização estratégica na rota das boiadas. A "Estrada Geral do Jaguaribe" escoava as boiadas entre as fazendas de gado do Sertão do Cariri ao porto e centro de salgagem da carne salgada de Aracati. A "Estrada das Boiadas" ou "Estrada dos Inhamuns" escoava o gado e os produtos entre a Paraíba e o Piauí.


Ponte sobre o rio Salgado, chama-se Piquet Carneiro. Foto de 25/10/1941 - Acervo de Clóvis Acário Maciel

A partir do século XIX, com o final do Ciclo da Carne do Ceará, as plantações de algodão e café foram implementadas. Já na segunda metade deste a iluminação pública foi instalada. Mesmo assim, Icó enfrentou um processo de degradamento político e econômico devido ao crescimento da importância política do Crato e depois com a expansão da Estrada de Ferro de Baturité até a cidade do Crato em 1910, o que favoreceu o comécio de Iguatu.

Na primeira metade do século XX, Icó volta a ter importância devido ao projeto de combate às secas com o Açude Lima Campos e a BR-116.


Igreja do Monte, padroeira, Nossa Senhora Aparecida - Acervo de Clóvis Acário Maciel

O topônimo "Icó" pode ser uma alusão a:

  • Uma palavra da língua tapuia, onde i (água) + kó (roça), tornando "água ou rio da roça";
  • Uma das tribos que habitavam às margens do Rio Salgado, denominada ikó;
  • Uma planta que poderia ter existido em abundância na região, o icozeiro, da família das caparidáceas (Capparis yco), cujo fruto é o icó.

Sua denominação original era "Arraial do Poço", depois "Povoação do Salgado", "Arraial da Senhora do O", "Arraial Velho", "Ribeira dos Icós", "Arraial Novo", "Arraial da Ribeira dos Icós", "Icós" e, desde 1860, "Icó". 

Teatro da Ribeira dos Icós em 1900

Teatro da Ribeira dos Icós, inaugurado em 1860. Acervo de Clóvis Acário Maciel

Foto recente do teatro

As principais fontes de água fazem parte das bacias do rio Salgado e do Baixo Jaguaribe, sendo os principais afluentes elas os riachos: Aba, Capim, capitão-mor, dos Cavalos, São Miguel, São João, dos Pedreiros, Lobata, Periquito, São Vicente, Santana, Tatajuba (este divisa com o município de Orós), Umari e outros tantos. Existem ainda 89 açudes, sendo os de maior porte os açudes: Lima Campos ou Estreito I e o Tatajuba.

As terras de Icó fazem parte da Depressão Sertaneja, com elevações significantes no lado leste com colinas e cristas dos maciços residuais como a Serra do Padrede. As altitudes entre 200 e 700 metros acima do nível do mar. Os solos da região são constituído de arenitos, calcários do Mesozóico e folhelhos, gnaisses e migmatitos do Pré-Cambriano indiviso, conglomerados, siltitos e sedimentos arenosos inconsolidados, aluviais, do Quaternário, quartzitos.

O sítio arquitetônico de Icó

Um sitio que é formado pelo perímetro urbano planejado pela Metrópole, na primeira metade do século XVII. Um projeto urbanístico com: ruas bem traçadas e retas (delimitando quadras relativamentes uniformes), praças bastante amplas, prédios públicos. O sítio nuclear situa-se entre as atuais ruas: 7 de Setembro, Ilídio Sampaio e Benjamin Constant, fechando-se ao lado leste com a praça principal.


  • O Teatro da Ribeira dos Icós: datado de 1860, obra do arquiteto Henrique Théberge, filho do médico e historiador que financiou esta obra neoclássica, Pedro Théberge. É o mais antigo teatro do estado do Ceará. É formado de dois pavimentos, no térreo encontram-se três galerias; no primeiro andar encontram-se camarotes superiores.
  • Casa de Câmara e Cadeia: datada da segunda metade do século XVIII, foi uma das mais seguras cadeias de sua época. Seus portões são verdadeiras fortalezas. As celas possuem um dos mais perfeitos esquemas de segurança, com paredes que possuem uma espessura de um metro e meio, as chaves das celas são únicas e pesam aproximadamente meio quilo cada uma. No seu interior encontra-se a capela penitenciária com a imagem de São Domingos (protetor dos presidiários). O prédio compõe-se de dois pavimentos. No andar superior funcionou a Câmara e no térreo funcionou a Cadeia Pública. Atualmente está inativa e passará pelas últimas reformas de restauração.
  • Igreja de Nossa Senhora da Expectação: Igreja em estilo barroco. Ao lado da igreja encontra-se o cemitério centenário.


Fontes: IBGE, Documentação Territorial do Brasil. Icó-CE, 
http://www.ceara.com.br/m/ico/index.htm e Wikipédia