Assim como no blog Fortaleza Nobre, vou focar no resgate do passado do nosso Ceará.
Agora, não será só Fortaleza, mas todas as cidades do nosso estado serão visitadas! Embarque você também, vamos viajar rumo ao passado!

O nome Ceará significa, literalmente, canto da Jandaia. Segundo o escritor José de Alencar, Ceará é nome composto de cemo - cantar forte, clamar, e ara - pequena arara ou periquito (em língua indígena). Há também teorias de que o nome do estado derivaria de Siriará, referência aos caranguejos do litoral.

sábado, 21 de julho de 2012

Velho chefe índio




Férias escolares. Início da década de cinquenta. Estada em Caucaia, na residência dos tios Joanito e Clarice. Rua Coronel Correia, número 406, vizinha à casa do tenente Edson da Mota Correia, amigo daqueles meus familiares.
Aventura sensacional para qualquer moleque de então.
Idas à Bodega do Seu Alves, casado com Dona Odete e pai de Maria de Nazaré, comprar broa, bulim, quebra-queixo, mariola enrolada em palha de bananeira, suspiro, filhó e demais guloseimas.
Visitas a Seu Petrônio, tabelião, com morada e cartório no destacado casarão na entrada da cidade, para ouvi das histórias de sua terra natal, Uruburetama. Nelas, até Lampião, desejoso de invadir o município, não o fez por temer os uruburetamenses.
Artista na marcenaria e por todos requisitado, Seu João, marido de Dona Neném, presenteou-me com a miniatura de ônibus, confeccionado em madeira e flandre, cópia dos verdadeiros da Empresa Vitória que, até hoje, atende aos caucaienses.

Manhã cedo, a chocalhada das tropas de jumentos dos carvoeiros, vendendo carvão e lenha de porta em porta, alvoroçava a meninada. Com permissão dos tangedores, os jegues já aliviados da carga davam-nos montaria. Desde a Cancela de Fiscalização de Trânsito, o então popular “Pau-do-guarda”, até o final da via principal.
Emoção maior coube a dois fatos outros. Somente vistos em filmes do faroeste e, ali, realidade. Um Rifle Winchester 44, conhecido como “Papo Amarelo”, pertencente ao tenente Edson e índios verdadeiros da Tribo Tapeba.
Diariamente, alguns nativos daquela aldeia vinham ao Mercado Público.
À frente do grupo, um idoso, postura e passos firmes, comandava-o. Estatura mediana, porte atlético, cabelos esbranquiçados, tez queimada pelo Sol, olhar sereno e tranquilo. Uma espécie de cocar, com faixa de palha colorida, envolvia-lhe a cabeça e fixava algumas penas multicores. Somavam-se a ele os colares elaborados com sementes de plantas e dentes de animais e duas listras paralelas, em cores amarela e vermelha, pintadas na face, desde o centro de uma bochecha até ao da outra.
O grupo mercadejava caranguejos, mocororó - bebida fermentada de caju que produziam, frutas e artefatos de palha de carnaúba, como abanadores para fogões e fogareiros, cestos, urus, esteiras, vassouras, espanadores e demais utensílios caseiros usados à época, que confeccionavam.
Por mais de uma vez, quando tia Clarice adquiriu seus produtos, o velho chefe índio passou a mão em minha cabeça e desejou-me muita sorte na vida.
De volta às aulas, no Colégio Lourenço Filho, a professora Antonieta Acioly determinou para todos da classe a feitura da redação “Minhas férias”.
Nosso trabalho mereceu a leitura pela mestra e os colegas queriam saber tudo sobre aqueles ancestrais indígenas.
Creio, daí, o nascedouro da estima que empresto aos causos, causoeiros e contadores de histórias.

                                                                                                                                                               Geraldo Duarte é advogado, administrador e dicionarista.
  

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