Férias escolares. Entre meus 13 e 15 anos de idade. Viajava com tio Joanito. Ele inspecionava serviços de seu trabalho em cidades do Interior e eu aproveitava para conhecer novas terras, gentes e costumes. Certa feita, o destino foi o Açude Poços de Pedras, em Campos Sales, com permanência de três dias no Iguatu.
Durante o labor de tio Joanito, minha estada deu-se na casa de outro tio - o Pedrinho -, funcionário do Ministério da Agricultura e responsável pelo escritório do Campo Experimental de Irrigação do Bugi. Zé Humberto, um dos primos e de minha idade, em férias do Seminário do Crato, fez-se cicerone. De batina preta do pescoço aos pés, sob um Sol abrasador, desmanchando-se em suor, alegrava-se por ser meu guia. Vestir trajes não clericais, nem pensar. Seminaristas locais o denunciariam. E adeus ao sonho do papado. Batemos pernas por todo o centro da cidade. Aqui e acolá, ele me mostrava os principais locais públicos. Igrejas, praças, casas comerciais, de diversões e de serviços. Conheci a única alfaiataria. Propriedade de Mané Magro. E uma história ali passada. Caboclo rude, com alforje descosturado, entra e diz que seu patrão queria o reparo já, já. Informou haver ele cuspido no chão e, antes do cuspe secar, queria-o de volta, com o apetrecho consertado. Mané disse-lhe ser alfaiate, não sapateiro. E que seu patrão mandou-o bater em porta errada. "Pois isso! Dou o recado de vosmicê a Seu Belchior!". Ao ouvir, Mané, de pronto, falou: "Homi de Deus! Pru que não disse logo de quem? Pra seu Belchior faço inté gibão! Decá a incumenda!". Belchior era tido e havido como o Lampião de Iguatu.
Geraldo Duarte
(Advogado e Dicionarista )
Imagem Cariri Cangaço
Nenhum comentário:
Postar um comentário