Assim como no blog Fortaleza Nobre, vou focar no resgate do passado do nosso Ceará.
Agora, não será só Fortaleza, mas todas as cidades do nosso estado serão visitadas! Embarque você também, vamos viajar rumo ao passado!

O nome Ceará significa, literalmente, canto da Jandaia. Segundo o escritor José de Alencar, Ceará é nome composto de cemo - cantar forte, clamar, e ara - pequena arara ou periquito (em língua indígena). Há também teorias de que o nome do estado derivaria de Siriará, referência aos caranguejos do litoral.

terça-feira, 19 de março de 2013

O Morro sem ouro



Quando alguém, referindo-se ao Morro do Ouro, tratava-o por favela, conseguia férreo opositor. O professor Lázaro Valter de Oliveira, diretor do antigo Colégio Rio Branco.
Na pasta que portava, havia um mapa publicado pela então Superintendência Municipal de Obras e Viação (Sumov), onde figuravam os bairros da Capital. Nele, registrava-se o Morro.

Apesar de não morar exatamente no local, mas próximo da entrada existente na avenida Sargento Hermínio, o mestre considerava-se ali residente e não em Jacarecanga.
Num de nossos bons papos, indaguei-lhe o porquê da rica denominação para uma área tão pobre e carente de obras e serviços públicos, naquele final de 1969.

A estação de Soure em 1922. Revista Ilustração Brasileira, 1922

Informou-me que “por ali passava a estrada que ia à cidade de Soure (hoje Caucaia) e, à beira, principiou um arruamento”. Ouviu dos primeiros moradores duas explicações para a nominação.

Uma, afirmava da existência de um relojoeiro que, além dos serviços da profissão, também consertava pequenas jóias e vendia alianças. Outra, asseverava haver um bodegueiro “arrancado botija com mais de duzentas moedas de ouro e quantidade, ainda maior, de prata. Afora o merceeiro, várias pessoas teriam encontrado, igualmente, peças dos ricos minérios.”.

O disse que disse, rapidamente, ocupou bocas e ouvidos. Gente nova chegando a todo o momento. Até a noite, pois garantem ser o turno apropriado para desenterrar tesouros, braços e ferramentas não paravam.

De tanto cavarem, na busca da fortuna, o solo parecia tábua de pirulitos.
Tais histórias, nascidas e criadas no lendário popular, quando fora dos caminhos do vento, tornam-se causos. Eis, este.

Geraldo Duarte
(Advogado, Administrador e Dicionarista)

sexta-feira, 8 de março de 2013

Fazedor de chuvas




Terá o mandacaru “fulorado”, nesta sequidão, indicando “chuvoeiro”? Quanta saudade do Gonzagão e do Zé Dantas no baião Xote das Meninas.
No dizer dos profetas das chuvas, reunidos entre as pedras do Quixadá, nada de chuvão, nem de chuvões, nem chuvaradas. Estiagem alongada. “Pingos aqui e acolá”. Chuvilhar razoável, porém tardio. É puxar dos rosários, arrastarem procissões e esperançar com muita fé no milagroso São Pedro.
Quanto à Fundação Cearense de Metereologia e Recursos Hídricos, a sempre cautelosa Funceme, de um pé à frente e outro atrás, não afirma que sim, também que não e, muito antes, pelo contrário.
Noutros tempos, quando o vidente das chuvas e das secas Roque Macêdo ainda não havia partido para o Oriente Eterno, tais dúvidas podiam-se aclarar.
Aquele farmacêutico, devotado observador e estudioso dos mistérios da natureza, precipuamente dos pluviométricos, com a sabedoria que Deus lhe deu, teria respostado as dúvidas, desde final de outubro do ano velho ano.


A busca de carrapatos em sovaco de peba. O rumo nascente ou poente da boca dos formigueiros e da casa do João-de-barro. A suadeira madrugadora de bovinos, equinos e suínos. As resinagens do cajueiro e do marmeleiro. Océu de carneirinhos. O halo lunar. Os vôos das vespas de cupins em fins de tardes. E inúmeras outras de suas observâncias e experiências diriam do futuro dos plantios, dos roçados.
Anunciado o porvir da situação climática pelo sábio Roque, a mídia da época difundia-a com especial destaque. Chamadas de primeira página dos jornais. Não me ocorre erro de suas previsões.
Quando a indesejável desgraceira da seca ameaçava, clamava-se pelo insólito. Por práticas místicas as mais incríveis. Valia o tudo ou o nada. 
À falta dos “dançadores da chuva” apaches, cheyennes, navajos, comanches e outros, personagens das vidas real e cinematográfica norte-americana, surgiu um remédio caseiro.
Buscou-se um pernambucano, radicado e amante de Fortaleza, nascido aos 11 de outubro de 1913. Portando, em breves meses, o completar do centenário de sua grandiosa e benfazeja chegada a Terra.
Cientista, médico graduado em 1938 pela Faculdade de Medicina de Recife, professor universitário de Química, Fisiologia e Bioquímica. Um dos fundadores da Universidade Federal do Ceará (UFC). Radioamador que transformou essa sua diversão em serviço social de relevância inestimável.
Também lecionou na Faculdade de Farmácia e na Escola Preparatória de Fortaleza (EPF), hoje Colégio Militar, além de ter fundado o Instituto de Metereologia do Ceará, agora Funceme, tendo sido seu primeiro diretor.
Grandemente preocupado com os trágicos cíclicos problemas ocasionados pelas estiadas, no Ceará e no Nordeste, deu-se, diuturnamente, ao estudo do fenômeno e suas possíveis decifrações, soluções ou amenizações.



Investigou, analisou e realizou experimentações no campo da Física das Nuvens, como assim denominou, e suas implicações na estiagem regional.
Criou adaptações e técnicas inéditas capazes de permitir, a baixos custos, nucleação artificial na atmosfera, sobre a região semiárida do País. Isso, em 1951.
Constituiu e liderou equipe integrada pelo engenheiro Janot Pacheco e os agrônomos Abner Gondim e Mauro Botelho com o objetivo de provocar as “chuvas artificiais” e formar uma mentalidade nova para o enfrentamento da problemática.
Os anais da Força Aérea Brasileira historiam as adaptações realizadas em aeronave sua, pelo professor e oficiais da FAB, conseguindo o pioneirismo de conseguir pulverizar uma solução composta por gelo seco, iodeto de prata, negro de fumo e cloreto de sódio, sobre as camadas nublosas, mesmo as tênues. 
Menor que fosse o resultado pluvial tornava-se exitoso. Um pequeno e único aviãozinho provocando, mesmo respingos, já seria acontecimento máximo em meado do século XX.
Registre-se, aqui, o replicar, setenta anos depois, em localidades padecentes de estiagens nos Estados Unidos, de ações muito assemelhadas as de nosso homenageado.
Falecido em 1977, o professor-doutor-cientista João Ramos Pereira da Costa, de quem todos nós, cearenses e nordestinos, somos permanentes devedores e rendemos preito, neste seu Centenário de Nascimento, imaginando-o nosso, com maiúsculas, Fazedor de Chuvas.



Geraldo Duarte
(Advogado, Administrador e Dicionarista)