Assim como no blog Fortaleza Nobre, vou focar no resgate do passado do nosso Ceará.
Agora, não será só Fortaleza, mas todas as cidades do nosso estado serão visitadas! Embarque você também, vamos viajar rumo ao passado!

O nome Ceará significa, literalmente, canto da Jandaia. Segundo o escritor José de Alencar, Ceará é nome composto de cemo - cantar forte, clamar, e ara - pequena arara ou periquito (em língua indígena). Há também teorias de que o nome do estado derivaria de Siriará, referência aos caranguejos do litoral.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Médico Importado

Jovenildo grelou os olhos e esticou os ouvidos. Premiu com força a tecla de aumento de som do controle do televisor. Zefinha, sua mulher, cochilante, meteu dos pés e gritou irritada: “que zuada é essa home de Deus?”.

“Mulhé! O Brasil arrivirou. O gunverno vai trazê médico das estranja pru sertão! Vai dá pelos peito dum peba gordo!”.

Dia amanheceu com Jove na porta da casa do mais esclarecido cidadão do povoado. Professor Felisberto.

O mestre disse conhecer a notícia. Programa Mais Médicos. Em pausado linguajar explicou detalhes ao agricultor.

A solução não era simples. Ali, naquele grotão, não havia posto de saúde, aparelhamento, enfermeira, atendente, auxiliares, medicamentos, nem outras exigências mínimas para o objetivado.

De que serviria a presença de um profissional da medicina? Mesmo que os tais doutores, originários de países vários, falassem a língua praticada em nossa Pátria, nos compreendessem e fossem compreendidos, entenderiam os regionalismos? Precisariam de intérpretes? Inclusive, com conhecimentos folclóricos ou populares?

Complementou citando consulentes queixosos de “amarelão, amojamento, antoje, arroto choco, azedume, berruga, deitar lombriga, coceira entre o ventoso e o penoso, comichão, curuba, dor do comprido que desce pro redondo, espinhela caída, formigado, friviação ardida no mucumbu, nó na tripa, pilôra, coceira na tripa gaiteira, tremelique, vento preso e centenas de outros termos do Dicionário de Medicina Popular, de João Conrado e Olimar Filho.


No dizer do velho e sempre replicado refrão de Colorau, lá dos Inhamuns, “Tá muito difícil, tá muito difícil!”.


Geraldo Duarte
 (Advogado, administrador e dicionarista)

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Dr. Godofredo Maciel



Advogado e político cearense.Intendente de Fortaleza nos governos;Justiniano de Serpa (1920), e Moreira da Rocha (12 de julho de 1924 a 12 de julho de 1928).
Nasceu em Baturité a 08 de setembro de 1883.
Filho do Cel. Raymundo Maciel e D. Emília Barbosa Maciel.
Estudou no Gymnásio Cearense,(continuidade de estudos feito no Seminário de Fortaleza),a época dirigido pelo afamado professor Anacleto de Queiroz. Depois de cursar o secundário no Lyceu do Ceará, matricula-se na Faculdade de Direito do Ceará. Nesse ínterim consegue excelente desempenho intelectual; redator da 'Reforma',sócio-efetivo do 'Centro Literário' e colaborador da Revista 'Praça do Ferreira'. Foi ainda redator do 'Unitário' e colaborador do 'Jornal do Ceará', dirigidos por Cel. João Brígido e Waldemiro Cavalcante. Depois de ter feito o primeiro ano do curso de direito na faculdade do "dono do Ceará" (Pinto Accióly),segue para o Rio, então capital federal, onde em 1908 torna-se bacharéu em sciências jurídicas e sociais pela Faculdade Livre de Direito do Rio de Janeiro. Orador eloquente e tribuno nato,é convidado a representar a turma de bacharelandos a primeiro de janeiro de 1909, na solenidade de colação de grau. Permanece no Rio até 1910 ao tempo em que advoga ao lado de Cândido de Oliveira. Nesse ano o Presidente Hermes da Fonseca nomeia-o intendente do Alto Purus. Aliás há um fato interessante na História do Brasil com respeito aos bacharelandos e bacharéis em direito e o sistema político, pelo menos até 1930, quando foi criada a OAB. A primeira geração de advogados brasileiros formou-se em Portugal,e foi responsável pela elaboração da primeira Constituição do recém formado estado do Brasil,a de 1824. Segundo Joaquim Nabuco "as faculdades de direito eram ante-salas da câmara", porque forneciam quadros para a organização política do país. Estabeleceu-se um cursus honorum; o jovem bacharelando/bacharéu era nomeado promotor de justiça/juiz substituto/juiz de direito e cargos assemelhados. Em seguida à deputado das assembléias provinciais e a assembléia geral, mais tarde à presidente da província. Depois da independência do Brasil? (07 de setembro de 1822),foram criadas as faculdades de direito de Recife e São Paulo. Pois não existe país sem lei, e as leis até então eram portuguesas.(FIGUEIREDO, Luciano.Nossa História. Ano I-nº6,abril de 2004-Editora Fundação Biblioteca Nacional, pág.85, párs.1 ao 9). Se os historiadores costumam dividir a História do Brasil-República Velha (1889 a 1930),em dois períodos: República da Espada e República das oligarquias, mas bem que esse segundo período poderia ser a 'República dos Bacharéis'.(O autor).

Importantes praças faziam parte do bucólico cenário urbano da Cidade de Fortaleza de 1928,com seus absurdos cerca de 80.000 habitantes: Praça do Ferreira,onde desembocavam as grandes artérias comerciais da capital e de onde partiam as linhas de bondes, praça em parte embelezada pelo governo municipal em questão. Praça Castro Carreira (Estação), Praça Gal.Tibúrcio em frente ao então Palácio do governo (Palácio da Luz), hoje sede da Academia Cearense de Letras. E o famoso Passeio Público,o mais belo logradouro da cidade e célebre por ter sido o local onde foram executados quando da Revolução do Equador-1825, os 'republicanos': Francisco Miguel Pereira Ibiapina/Luis Ignácio de Azevedo Bolão e Feliciano José da Silva Carapinima. A cidade, segundo o historiador Dr.Guilherme Studart - Barão de Studart "aformosou-se a olhos vistos; com o abandono dos antigos estylos de edificação e o seu movimento se accentúa dia-a-dia,sendo o número de seus automóveis de mais de 300". A bucólica Cidade de Fortaleza nos idos do segundo governo Godofredo Maciel, nos é motivo de orgulho e admiração. Objeto de estudo para: pesquisadores, historiadores e memorialistas. Base formada para que hoje a capital dos cearenses viesse a ser a quinta maior do país.Como homenagem ao trabalho prestado ao povo fortalezense, hoje leva o nome de importante logradouro público da capital a do nobre advogado - Dr.Godofredo Maciel. Bibliografia - SAVASTANO, N.Terra Cearense, pág.110,párs 1-45.

Foi respeitado a nomenclatura textual da época. 

Foto e Texto: Santana Júnior

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Sobral - Especial 240 Anos


Praça Dr. José Saboia, cruzamento da Rua Domingos Olímpio com Avenida Dom José - Arquivo Fotos em Preto e Branco

Ao município que hoje conta com quase 200 mil habitantes, tendo se tornado pólo trabalhista e universitário-nossa querida Sobral (teve seus fundamentos nas terras da antiga Fazenda caiçara), e que se tornou Vila à 05 de julho de 1773, portanto completando 240 anos;(por ordem do Governador de Pernambuco Manuel da Cunha Menezes, em sessão Extraordinária na Câmara Municipal, recebe o lugarejo o nome de Vila Distinta e Real de Sobral).
Durante sua rica história nesses 240 anos não tem somente na Família Ferreira Gomes, (mandatários dos destinos do estado), nem no 'reinado' do Bispo-Conde Dom José Tupinambá da Frota (que queria transformar Sobral na Roma do semi-árido), expoentes máximos. 
Considero a fase áurea da História de Sobral ao longo de seus 240 anos as 6 primeiras décadas do século findante;onde debutavam nos palcos do poder estadual, tanto à nível político/econômico/religioso e jurídico figuras como: Engenheiro João Thomé de Saboia e Silva/Desembargador José Moreira da Rocha/Dr. José Saboya de Albuquerque/Dr.Plínio Pompeu de Saboia Magalhães/Francisco de Almeida Monte-Chico Monte/Dom José Tupinambá da Frota e seu poderoso tio D. Jerônimo Thomé da Silva (à época Arcebispo Primaz do Brasil).
Coincidência ou não, mas nesse período encontrava-se em pleno funcionamento o Porto de Camocim e sua extensão beneficiária da elite sobralense, a Estrada de Ferro de Sobral

ESTRADA DE FERRO DE SOBRAL


Final do século XIX, o Nordeste era assolado por secas arrasadoras (infelizmente isso acontece até hoje), e para diminuir o flagelo que recaíra sobre os sertanejos da Região Norte do Ceará, V. Majestade - o Imperador D. Pedro II manda construir a Estrada de Ferro de Sobral. Transcorria a grande seca que assolou o Ceará em 1877/78. 
O Conselho de Estado tendo à frente o Ministro da Agricultura, Comércio e Obras Públicas - João Lins Vieira e Cansanção e Sinimbu  propõe ao governo imperial iniciação de uma linha férrea ligando o Porto de Camocim à Cidade de Sobral, empregando nesse trabalho a população inativa devido à seca. Por Decreto de 01 de junho de 1878, o governo imperial autoriza a construção dessa importante linha férrea. À partir da Estrada de Ferro de Sobral (Camocim-Sobral e Sobral-Ipú), passara a futura 'Princesa do Norte' à usufruir grandemente do movimento do Porto de Camocim; fazendo o escoamento de mercadorias e o tráfego de pessoas, vindas ou com destino ao mercado europeu, em primazia à Fortaleza/Recife e Rio de Janeiro. Segundo Giovanna Saboya - Pró Reitora do curso de História da UVA, a elite sobralense- à essa época-início do século XX, costumava se banquetear com mercadorias vindas do 'velho mundo', em recepções nos seus sobradões de mobiliário europeu. Nas mesas eram encontrados produtos como: salmão, lagosta, camarão americano, cavala francesa, azeite doce, vinhos do Porto, conhaque francês e diversas iguarias. 
(Revista Cidade Universitária, Camocim- História de trabalho, lutas e realizações. Pág. 28, parágrafos 32 a 39/pág. 30, parágrafos 8 ao 16.) 

O Porto do Mucuripe ainda era um sonho distante alentado em pranchetas de burocratas da capital federal -Rio. Sua efetiva construção veio à ser uma realidade no governo do 'sanguinário-lecista'- interventor federal Professor Menezes Pimentel (A 20 de outubro de 1951), o navio cargueiro"Mormacred", da Cia Moore Mac Curmack Line, inaugura de fato aquele porto marítimo. 
(FILHO, Almino Cavalcante Rocha - Cadernos Sobralenses, As Viações, Pág. 21 e 22, parágrafos 4-7).

O assoreamento do Porto de Camocim (evitando que navios de grande calado aportassem), marcou o início da 'decadência' sobralense no cenário político e econômico do estado.

Texto: Santana Júnior


segunda-feira, 24 de junho de 2013

Achilô



Quem conheceu o saudoso empresário Geraldo Borges Pereira muitos causos dele ouviu. De sua terra natal, Cariús, e da que o adotou, Senador Pompeu (Foto ao lado). Quanto a Fortaleza, dizia ser lugar de muitas histórias para escutar, jamais para recontar. Nunca me explicou o motivo.

Repetia possuir quatro manias. Jogar gamão, fazer palavras cruzadas, ter o Fusca como carro predileto e comer sarapatel. Não trocava o besouro por veículo nenhum. Quando o irmão Marcone procurava demonstrar a insegurança e desconforto do carrinho, ele o convidava a mudar o disco.
Bom de garfo gostava dos pratos requintados das cozinhas nacional e internacional, entretanto, houvesse um sarapatel, descartaria os outros.

Hóspede nosso em Brasília, preparei-lhe uma surpresa. Levei-o a um modesto restaurante, antiga casa de madeira dos tempos da construção da Belacap, na barragem do Lago Paranoá. A pedida foi sarapatel. Segundo Geraldo, o melhor que comeu em sua vida.


A conversa até pode agradar, mas o papo é “achilô”.

Contou-me que, em Cariús  existia um comerciante que desconfiava até da própria sombra. Documento que possuísse mais de uma via, lia e relia todas. Errasse com um cheque, riscava muitas vezes a assinatura e os demais escritos, rasgava-o até não mais conseguir e, depois, colocava os pedacinhos num recipiente e ateava fogo. Pessoa irritadiça, quando de mau humor, bradava: “achilô, achilô!”. Ninguém sabia o significado.

Certa feita, exasperou-se com o pároco e bradou o termo.

De pronto, o vigário respondeu: “Respeite-me! ‘Achilô’ jamais! Você, em confissão, disse-me o significado e mamãe é pessoa honrada!”.

Geraldo Duarte 
(Advogado, administrador e dicionarista)

terça-feira, 19 de março de 2013

O Morro sem ouro



Quando alguém, referindo-se ao Morro do Ouro, tratava-o por favela, conseguia férreo opositor. O professor Lázaro Valter de Oliveira, diretor do antigo Colégio Rio Branco.
Na pasta que portava, havia um mapa publicado pela então Superintendência Municipal de Obras e Viação (Sumov), onde figuravam os bairros da Capital. Nele, registrava-se o Morro.

Apesar de não morar exatamente no local, mas próximo da entrada existente na avenida Sargento Hermínio, o mestre considerava-se ali residente e não em Jacarecanga.
Num de nossos bons papos, indaguei-lhe o porquê da rica denominação para uma área tão pobre e carente de obras e serviços públicos, naquele final de 1969.

A estação de Soure em 1922. Revista Ilustração Brasileira, 1922

Informou-me que “por ali passava a estrada que ia à cidade de Soure (hoje Caucaia) e, à beira, principiou um arruamento”. Ouviu dos primeiros moradores duas explicações para a nominação.

Uma, afirmava da existência de um relojoeiro que, além dos serviços da profissão, também consertava pequenas jóias e vendia alianças. Outra, asseverava haver um bodegueiro “arrancado botija com mais de duzentas moedas de ouro e quantidade, ainda maior, de prata. Afora o merceeiro, várias pessoas teriam encontrado, igualmente, peças dos ricos minérios.”.

O disse que disse, rapidamente, ocupou bocas e ouvidos. Gente nova chegando a todo o momento. Até a noite, pois garantem ser o turno apropriado para desenterrar tesouros, braços e ferramentas não paravam.

De tanto cavarem, na busca da fortuna, o solo parecia tábua de pirulitos.
Tais histórias, nascidas e criadas no lendário popular, quando fora dos caminhos do vento, tornam-se causos. Eis, este.

Geraldo Duarte
(Advogado, Administrador e Dicionarista)

sexta-feira, 8 de março de 2013

Fazedor de chuvas




Terá o mandacaru “fulorado”, nesta sequidão, indicando “chuvoeiro”? Quanta saudade do Gonzagão e do Zé Dantas no baião Xote das Meninas.
No dizer dos profetas das chuvas, reunidos entre as pedras do Quixadá, nada de chuvão, nem de chuvões, nem chuvaradas. Estiagem alongada. “Pingos aqui e acolá”. Chuvilhar razoável, porém tardio. É puxar dos rosários, arrastarem procissões e esperançar com muita fé no milagroso São Pedro.
Quanto à Fundação Cearense de Metereologia e Recursos Hídricos, a sempre cautelosa Funceme, de um pé à frente e outro atrás, não afirma que sim, também que não e, muito antes, pelo contrário.
Noutros tempos, quando o vidente das chuvas e das secas Roque Macêdo ainda não havia partido para o Oriente Eterno, tais dúvidas podiam-se aclarar.
Aquele farmacêutico, devotado observador e estudioso dos mistérios da natureza, precipuamente dos pluviométricos, com a sabedoria que Deus lhe deu, teria respostado as dúvidas, desde final de outubro do ano velho ano.


A busca de carrapatos em sovaco de peba. O rumo nascente ou poente da boca dos formigueiros e da casa do João-de-barro. A suadeira madrugadora de bovinos, equinos e suínos. As resinagens do cajueiro e do marmeleiro. Océu de carneirinhos. O halo lunar. Os vôos das vespas de cupins em fins de tardes. E inúmeras outras de suas observâncias e experiências diriam do futuro dos plantios, dos roçados.
Anunciado o porvir da situação climática pelo sábio Roque, a mídia da época difundia-a com especial destaque. Chamadas de primeira página dos jornais. Não me ocorre erro de suas previsões.
Quando a indesejável desgraceira da seca ameaçava, clamava-se pelo insólito. Por práticas místicas as mais incríveis. Valia o tudo ou o nada. 
À falta dos “dançadores da chuva” apaches, cheyennes, navajos, comanches e outros, personagens das vidas real e cinematográfica norte-americana, surgiu um remédio caseiro.
Buscou-se um pernambucano, radicado e amante de Fortaleza, nascido aos 11 de outubro de 1913. Portando, em breves meses, o completar do centenário de sua grandiosa e benfazeja chegada a Terra.
Cientista, médico graduado em 1938 pela Faculdade de Medicina de Recife, professor universitário de Química, Fisiologia e Bioquímica. Um dos fundadores da Universidade Federal do Ceará (UFC). Radioamador que transformou essa sua diversão em serviço social de relevância inestimável.
Também lecionou na Faculdade de Farmácia e na Escola Preparatória de Fortaleza (EPF), hoje Colégio Militar, além de ter fundado o Instituto de Metereologia do Ceará, agora Funceme, tendo sido seu primeiro diretor.
Grandemente preocupado com os trágicos cíclicos problemas ocasionados pelas estiadas, no Ceará e no Nordeste, deu-se, diuturnamente, ao estudo do fenômeno e suas possíveis decifrações, soluções ou amenizações.



Investigou, analisou e realizou experimentações no campo da Física das Nuvens, como assim denominou, e suas implicações na estiagem regional.
Criou adaptações e técnicas inéditas capazes de permitir, a baixos custos, nucleação artificial na atmosfera, sobre a região semiárida do País. Isso, em 1951.
Constituiu e liderou equipe integrada pelo engenheiro Janot Pacheco e os agrônomos Abner Gondim e Mauro Botelho com o objetivo de provocar as “chuvas artificiais” e formar uma mentalidade nova para o enfrentamento da problemática.
Os anais da Força Aérea Brasileira historiam as adaptações realizadas em aeronave sua, pelo professor e oficiais da FAB, conseguindo o pioneirismo de conseguir pulverizar uma solução composta por gelo seco, iodeto de prata, negro de fumo e cloreto de sódio, sobre as camadas nublosas, mesmo as tênues. 
Menor que fosse o resultado pluvial tornava-se exitoso. Um pequeno e único aviãozinho provocando, mesmo respingos, já seria acontecimento máximo em meado do século XX.
Registre-se, aqui, o replicar, setenta anos depois, em localidades padecentes de estiagens nos Estados Unidos, de ações muito assemelhadas as de nosso homenageado.
Falecido em 1977, o professor-doutor-cientista João Ramos Pereira da Costa, de quem todos nós, cearenses e nordestinos, somos permanentes devedores e rendemos preito, neste seu Centenário de Nascimento, imaginando-o nosso, com maiúsculas, Fazedor de Chuvas.



Geraldo Duarte
(Advogado, Administrador e Dicionarista)

sábado, 26 de janeiro de 2013

Aratuba - Antiga Vila de Coité


Aratuba em 1945 - Arquivo Aratuba Online

Na serra de Guaramiranga, entre cimos e contrafortes com alguns vales mais ou menos profundos, de terra férteis, formou-se o núcleo populacional de Aratuba. Seu primitivo nome foi Coité, árvore da família das Bignomiaceas, produtora de fruto do qual serrando-se ao meio, se fazem cuias de muita utilidades doméstica. Chamou-se depois Santos Dumont, homenagem ao “PAI DA AVIAÇÃO”.

O Distrito foi criado com a denominação de Coité, pela lei provincial nº 2062, de 10-12-1883. Foi elevado à categoria de vila com a denominação de Coité, pelo decreto estadual nº 35, de 01-08-1890. Instalado em 16-08-1890. Pela lei estadual nº 550, de 25-08-1899, a Vila de Coité é extinta, sendo seu território anexado ao município de Baturité.
É elevado novamente à categoria de município com a denominação de Coité, pela lei estadual nº 602, de 06-08-1990, desmembrado de Baturité.
Em divisão administrativa referente ao ano de 1911, o município aparece constituído de 3 distritos: Coité, Pindoba e Tope. Pelo decreto estadual nº 1156, de 04-12-1933, o município de Coité é extinto, sendo seu território anexado ao município de Pacoti. Pelo mesmo decreto-lei estadual é criado o distrito de Santos Dumont, com terras do extinto município de Coité e anexado ao município de Pacoti. 

Pracinha de Aratuba


Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o Distrito de Santos de Dumont figura no município de Pacoti. Assim permanecendo em divisões territoriais datadas de 31-XII-1936 e 31-XII-1937.

Pelo decreto-lei estadual nº 1114, de 30-12-1943, o distrito de Santos Dumont passou a denominar-se Aratuba.

Em divisão territorial datada de 1-VII-1950, o distrito já denominado Aratuba permanece no município de Pacoti.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 1-VII-1955. 
Elevado à categoria de município com a denominação de Aratuba, pela lei estadual nº 3563, de 29-03-1957, desmembrado de Pacoti. Sede no antigo distrito de Aratuba. Constituído do distrito sede. Instalado em 31-03-1957.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1960, o município é constituído do distrito sede. 
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2003. 
Pela lei municipal nº 173, de 27-12-2001, é criado o distrito de Pai João e anexado ao município de Aratuba.

Em divisão territorial datada de 2005, o município é constituído de 2 distritos: Aratuba e Pai João.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007.


Revista Aratuba Online


As terras nos arredores de Aratuba eram habitadas por índios de origem tupi-guarani, como os canindés.
Sua formação como núcleo urbano aconteceu lentamente a partir do século XVIII, com as catequeses dos jesuítas e com pessoas oriundas de Baturité e de outras regiões, notadamente do semiárido cearense, atraídos pelo clima e condições frutícolas.

Referindo-se a Aratuba, o historiador cearense Gustavo Braga disse: "Suas cachoeiras e sua paisagem bucólica são locais de lazer para uma profunda reflexão de vida".

Aratuba tem origem na língua tupi e significa "ajuntamento de pássaros", através da junção dos termos gûyrá ("pássaro") e tyba ("ajuntamento").


Os desfiles estudantis

Desfile estudantil da CNEC - Arquivo Aratuba Online

A CNEC (Campanha Nacional de Escolas da Comunidade) não criou os desfiles estudantis no município de Aratuba, mas o elevou a um patamar cívico popular. Historicamente, o primeiro desfile estudantil aconteceu no tempo da Escola Pública da Dona Júlia de Barros no 2º paroquiado de Pe. Gerardo Plácido Broders de agosto de 1928 a abril de 1930. Porém para muitas pessoas os desfiles de Aratuba terminaram quando a CNEC deixou de existir. Os desfiles bonitos e com aquela “rivalidade” CNEC e Escola Joacy onde ninguém queria ficar na “rabada” e cada um queria mostrar o melhor. Ajuntava multidões nas ruas da cidade. Fazia parte do contexto histórico da época à importância que os livros de história destacavam os atos heroicos e os personagens da história brasileira: D Pedro I e o grito do Ipiranga, a Princesa Isabel e a libertação dos escravos; alunos pintados de alcatrão chupando cana, representando a escravidão; Tiradentes e tantos outros pelotões. A pedagogia da CNEC era libertadora e paradoxalmente tradicional, ensinava o respeito, a cidadania e a moral mas como toda escola, tinha seus momentos difíceis motivados por comportamentos inadequados de alunos. Certa vez José Oscar sofreu para acalmar alunos que arrancavam flores do jardim e quebraram o filtro por causa das baixas notas de recuperação. Ao longo do tempo a CNEC foi acusada de ser politicamente esquerdista e não podia ser diferente, afinal seu padre fundador foi o introdutor das CEBs no município e seu sucessor na paróquia expandiu-as além de Aratuba. Refiro-me aos párocos José Maria e Moacir Cordeiro Leite

CNEC e Joacy - Arquivo Aratuba Online

Ambos tiveram relação direta com a história cenecista aratubense, sendo que o último teve grande influência e divergência com a política partidária local. Mas não é possível negar que a CNEC tinha sua bandeira política até porque era visível e assim conflitou com outros interesses partidários existentes no município. Dentro da sala de aula no Monsenhor José Barbosa se ensinava Português, Matemática, Ciências, História, Geografia, por certo tempo, OSPB e Educação Moral e Cívica, Religião e depois a introdução do Inglês no 1º Grau e muitas vezes se recebia livros didáticos. A dificuldade maior era no 2º Grau(Ensino Médio) com ausência de livros e dependência total do professor copiando o conteúdo no quatro para o aluno dificultando o aprofundamento do assunto. No 2º Grau Científico as disciplinas eram Português, Matemática, História, Geografia, Física, Química, Programa de Saúde, Biologia, Inglês, Literatura e Arte

Desfile CNEC 1980- Arquivo Aratuba Online

Alguns professores eram leigos, pois não tinham nível superior e outros que eram formados não possuíam formação específica e pedagógica para atuar em sala de aula. Desafios que a CNEC ia vencendo do jeito que podia. Sem contar que a “rivalidade” CNEC e Joacy não ficava apenas no âmbito dos desfiles estudantis, infelizmente se estendia ao conhecimento acadêmico. Os alunos do Joacy faziam um exame de admissão para entrarem no ginasial e na CNEC tal exame não existia e disso se concluía que o ensino da CNEC era inferior ao da Escola Estadual. E com todas as dificuldades da CNEC os alunos se envolviam nos trabalhos, gincanas, desfiles, folclore, formação de grêmios e nas festas de colação de grau e religiosas. 

Desfile estudantil da CNEC - Arquivo Aratuba Online

Numa época sem transporte, docentes leigos, sem material didático suficiente, sem FUNDEB, mas com muita garra, principalmente dos professores, muitos que passavam o dia trabalhando e à noite corriam ao Monsenhor José Barbosa para ensinar com um salário atrasado e sem dia certo para receber, mas eles estavam lá para dar o melhor de si. 

Desfile estudantil da CNEC - Arquivo Aratuba Online

Em Aratuba o “corpo” da CNEC deixou de existir mas a “alma” cenecista está muito presente. Como disse um aluno e professor da CNEC e hoje Diretor de Escola Nucleada, Jerly dos Santos: “Quem foi aluno da CNEC, hoje é autônomo e seguro de si, penso que esta é uma característica de um cenecista.” A força cenecista foi vista nos últimos anos durante os festejos do aniversário dos 39 anos do município em 1998 quando aconteceram várias competições de jogos, maratonas, ciclismo, salto em altura e distância entre as escolas Monsenhor José Barbosa, Escola Maria Júlia e Escola Joacy Pereira. E no quadro final a CNEC desbancou as Escolas Joacy Pereira e Maria Júlia com 3 troféus e 23 medalhas, entregues na própria quadra da CNEC. 

Valber (Aratuba Online)


As fontes de água de Aratuba fazem parte das bacias Metropolitana e do Rio Curu, sendo as principais fontes os rios do Aracaju, dos Tavares, o Rio Putiú (afluente do Rio Aracoiaba) e o Rio Pesqueiro, que deságua no Açude Pesqueiro (com barragem em Capistrano), bem como riachos tais quais o dos Barros, Bom Jardim, do Cedro, Esterteal, Furna da Onça, da Lagoa Nova e Salgadinho.

Aratuba em dia de muita chuva

Aratuba localiza-se no Maciço de Baturité, a uma altura média de novecentos metros acima do nível do mar, possuindo o núcleo urbano mais alto do estado do Ceará (a sede do município localiza-se a 945 metros de altura). Possui relevo bastante acidentado, sendo a principal elevação o Serrote da Benedita.


O ecoturismo é uma importante fonte de renda do município, devido às suas atrações naturais como a Reserva Ecológica de Aratuba e Reserva do Brejo.
Outra atração é a arquitetura da cidade, com as capelas do Tope e de Santa Rita, a Igreja Matriz São Francisco de Paula, a Casa de Cultura, a Casa Paroquial, o Engenho da Pindoba e a Mansão da Família Pereira.


Foto de 2008

O primeiro instrumento de apoio eclesial, preponderantemente destinado a reunir na povoação as características sociais de urbanismo, nasceu com a ideia de se erigir no reduto a sua capela. Houve como preferente hierático São Francisco de Paula. Essa ideia prosperou, reuniu adeptos, de sorte que em 1883, edificava-se a primitiva capela. No ano seguinte, graças ao florescente progresso religioso, criou-se a Freguesia cuja instalação data de 8 de janeiro de 1884, tendo como órgão subordinante o bispado de Fortaleza.

2008

O Governo Estadual tem no município os seguintes postos: Centro de Saúde Aratuba (Clínica médica), Posto de Saúde do Pai João (ambulatório para atendimento básico), Posto de Saúde de Jardim, (ambulatório para atendimento Básico), Posto de Saúde Serra Verde (ambulatório p/ atendimento básico), Posto de Saúde Mundo Novo, Posto de Saúde Cantinho. Há também o Ambulatório mantido pelo Sindicato do Trabalhadores Rurais de Aratuba, e o Ambulatório da LBA/ SOC/ de proteção à criança pobre de Aratuba.


Fontes: http://www.ceara.com.br, Wikipédia, IBGE e  Site Aratuba Online

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Parabéns Ceará



O Estado do Ceará comemora 214 anos de autonomia da Capitania de Pernambuco nesta quinta-feira, 17. Para celebrar a data, a Secretaria de Cultura (Secult), realiza uma série de ações durante todo o dia. A programação será realizada simultaneamente em Aquiraz, que foi a primeira capital do Estado, e Fortaleza.

O primeiro ato ocorre às 9h, na Praça da Matriz, em Aquiraz, com a presença do governador em exercício, Domingos Filho, e do titular da Secult, Francisco Pinheiro

Dia do Ceará - 17 de Janeiro de 2013. 

Aquiraz

9h00  -- Abertura oficial da programação alusiva ao Dia do Ceará
              - Hasteamento das bandeiras
             - Apresentação da Banda Música de Aquiraz – Execução do Hino de Aquiraz
             - Apresentação da Banda de Música da Polícia Militar – Execução Hino do Ceará
              - Apresentação artística de Rodolfo Forte – Execução, com acordeon, do Hino Nacional
           -  Pronunciamentos do Secretário de Cultura de Aquiraz - do Prefeito Municipal – do Secretário de Cultura do Estado e do Governador do Estado
10h00 - Visita guiada as obras de restauração da pintura do forro da Capela Mor da Igreja de São José de Ribamar
9h00 às 17h00 - Visitas guiadas ao Museu Sacro de Aquiraz
                             – Exposição de trabalhos produzidos em marchetaria pelo artista Sílvio Rabelo com temas sobre o Ceará do jangadeiro, Ceará religioso e literato. Anexo do Museu de Aquiraz
18h30 - Missa na Igreja São José de Ribamar
Festa de São Sebastião (Padroeiro de Aquiraz)


Fortaleza

Museu do Ceará

18h30 – Roda de Toré com os Índios Tapeba
19h00 – Mesa de abertura: Cristina Holanda (Museu do Ceará), Sílvia Barbosa (ADELCO – Associação para o Desenvolvimento Local Co-produzido) e Leno Farias (RENAFRO – Rede Nacional de Religiões de Matriz Africana e Saúde)
19h30 – Apresentação das exposições fotográficas “Echaporã” (Mayara Melo) e “Festa de Terreiro” (Salvino Lobo)
20h20 – Coquetel de abertura das exposições “Echaporã” e “Festa de Terreiro”. Apresentação do Afoxé Oxum Odolá.

Sobrado Dr. José Lourenço

09h00 às 17h00 - Visitas mediadas às exposições "Goiabeiras - Outros Mares" , do fotojornalista Dário Gabriel e "Da Cor do Norte - Brinquedos de Miriti", do fotógrafo Jarbas Oliveira.
10h00 – Oficina: Confecção de porta-retratos artesanais com Geórgia Viana
14h00 – Cine Clube Especial Dia do Ceará -
- A Arte Encantada de Luiz Hermano
- Perfil Sérvulo Esmeraldo
- Com o Oceano Inteiro para Nadar - Leonilson
- Grandes Personagens: Efraim Almeida
16H00 – Cafe Fotográfico em celebração ao Dia do Ceará com Dario Gabriel e Jarbas de Oliveira

Theatro José de Alencar

09h00 - Abertura de Portas com audição do Hino do Ceará
09h00 – 10h00 – 11h00 – 12h00 – 14h00 – 15h00 – 16h00 – 17h00 – Visita guiada ao TJA * No horário das 15h00 o guia é o bailarino Hugo Bianchi
09h00 às 17h00 – Saguão do TJA: Ceará em livros – Para consulta no local, publicações da SECULT
14h00 – Palco principal – Projeto Respeitável Público apresenta Teatro: “Heróis do Papelão", do Grupo Formosura
15h00 – Palco principal: Projeto Respeitável Público apresenta Dança “Primavera Flamenca” do Grupo Tablado
16h00 - Jardim do TJA – Projeto respeitável Público apresenta Música -"Grupo Quinteto Agreste
18h00 – Saguão do TJA – Hora do Angelus – Tenor Franklin Dantas canta Ave Maria
18h10 – Palco principal – Violonista Marco Leonel Fukuda inicia temporada de lançamento do seu segundo CD “Jornada


Fonte: Edimar Bento e Secult

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Lampião de Iguatu



Férias escolares. Entre meus 13 e 15 anos de idade. Viajava com tio Joanito. Ele inspecionava serviços de seu trabalho em cidades do Interior e eu aproveitava para conhecer novas terras, gentes e costumes. Certa feita, o destino foi o Açude Poços de Pedras, em Campos Sales, com permanência de três dias no Iguatu.

Durante o labor de tio Joanito, minha estada deu-se na casa de outro tio - o Pedrinho -, funcionário do Ministério da Agricultura e responsável pelo escritório do Campo Experimental de Irrigação do Bugi. Zé Humberto, um dos primos e de minha idade, em férias do Seminário do Crato, fez-se cicerone. De batina preta do pescoço aos pés, sob um Sol abrasador, desmanchando-se em suor, alegrava-se por ser meu guia. Vestir trajes não clericais, nem pensar. Seminaristas locais o denunciariam. E adeus ao sonho do papado. Batemos pernas por todo o centro da cidade. Aqui e acolá, ele me mostrava os principais locais públicos. Igrejas, praças, casas comerciais, de diversões e de serviços. Conheci a única alfaiataria. Propriedade de Mané Magro. E uma história ali passada. Caboclo rude, com alforje descosturado, entra e diz que seu patrão queria o reparo já, já. Informou haver ele cuspido no chão e, antes do cuspe secar, queria-o de volta, com o apetrecho consertado. Mané disse-lhe ser alfaiate, não sapateiro. E que seu patrão mandou-o bater em porta errada. "Pois isso! Dou o recado de vosmicê a Seu Belchior!".  Ao ouvir, Mané, de pronto, falou: "Homi de Deus! Pru que não disse logo de quem? Pra seu Belchior faço inté gibão! Decá a incumenda!". Belchior era tido e havido como o Lampião de Iguatu.

Geraldo Duarte
(Advogado e Dicionarista )

Imagem Cariri Cangaço