Assim como no blog Fortaleza Nobre, vou focar no resgate do passado do nosso Ceará.
Agora, não será só Fortaleza, mas todas as cidades do nosso estado serão visitadas! Embarque você também, vamos viajar rumo ao passado!

O nome Ceará significa, literalmente, canto da Jandaia. Segundo o escritor José de Alencar, Ceará é nome composto de cemo - cantar forte, clamar, e ara - pequena arara ou periquito (em língua indígena). Há também teorias de que o nome do estado derivaria de Siriará, referência aos caranguejos do litoral.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Trairi - Rumo aos 60 anos!


Mundaú

Segundo a historiadora Maria Pia de Sales, Trairi nasceu como aldeia em l608, com a chegada dos Pitiguaras às margens do rio Trairi. Entre o século XVI e a metade do século XVII, ainda se encontrava nesta mesma situação. No final do Século XVII, começaram a chegar portugueses que se estabeleceram, constituindo famílias.


Rio Trairi

A ocupação se intensifica no município em meados do século XVIII, quando os colonos Nicolau Tolentino, Marinheiro Cunha, Manuel Barbosa, Xavier de Sousa, João Verônica e Antônio Barros de Sousa estabeleceram fazendas na região.

O povoado é elevado a categoria de Vila e posteriormente a Município. A sua evolução política é marcada por uma trajetória repleta de instabilidades, sendo alvo de constantes alterações, onde, após ter chegado à condição de município, em novembro de 1863, tem essa condição suprimida e restaurada em várias ocasiões, vindo a ser restaurado definitivamente somente em 22 de novembro de 1951 e instalado em 25 de março de 1955 com o desmembramento do município de Paracuru.


Capela de Guajiru
TRAIRI ALDEIA

Os índios que perambulavam por Trairi em 1600, segundo o historiador Tristão de Alencar Araripe, eram os Anassés e Tabajaras, eram caçadores que não se aclimataram nas praias, indo para os sertões e serras onde formaram suas tabas.



Praia de Flecheiras

Em 1608, só existia do Trairi, o rio, que nasce nas quebradas das serras e vem em rumo do litoral, até despejar no Atlântico, no local onde hoje chamamos Barra do Trairi. Neste local, ao passar dos anos, se formaram dois lugarejos, Cana Brava e Pedrinhas, habitados por descendestes de portugueses, índios e africanos, na sua maioria, portugueses e índios. Depois se estendeu por todo longo do rio, com a construção de casas, pelo Capitão-Mor, na colonização e pelos primeiros portugueses que aqui chegaram e construíram suas casas e a capela.


Praia de Flecheiras

Trairi nasceu como aldeia em l608, com a chegada dos Pitiguaras às margens do rio de mesmo nome. Entre o século XVI e a metade do século XVII, ainda se encontrava nesta mesma situação. No final do Século XVII, começaram a chegar portugueses que se estabeleceram, constituindo famílias, os que não eram ainda casados.

A ocupação do município tem início em meados do século XVIII, quando os colonos Nicolau Tolentino, Marinheiro Cunha, Manuel Barbosa, Xavier de Sousa e Antônio Barros de Sousa que estabeleceram fazendas na região. Entre eles, como fundador do reduto, destaca-se João Verônica um bem sucedido colono, e ótimo construtor que ocupou uma área onde edificou sua casa de moradia, promovendo o aldeamento em torno da qual, a cerca de 9 km do mar, nasceria a povoação de Trairi.

TRAIRI VILA

A Vila de Trairi foi fundada em 12 de novembro de 1863. Foi seu primeiro Intendente o Coronel Antônio Barroso de Souza, da zona de Paracurú, no tempo do império.



Estádio Municipal Manoel Barroso Neto - O Barrozão

Em vista de ingerência política negativa, o processo de elevação de Trairi a Vila foi prejudicado. Na primeira vez, durou apenas um ano. Foi extinta pela Lei nº 1110, de 1 de novembro de 1864. Em 1869, foi outra vez instituída a condição de Vila. Em 1869, pela Lei 1235 de 27 de novembro, a sede da Vila foi outra vez transferida, ficando sediada em Parasinho, na época adiado a Trairi, que elevada a Vila tomou o nome de Paracuru. Seis anos depois, em 1874, retorna Trairi a condição de Vila pela Lei 1604 de 14 de agosto. Deve-se isso ao acelerado processo de colonização. Passou a chamar-se Vila N. S. do Livramento. Pela Lei nº 1669 de 19 de agosto de 1875, foi confirmado o nome de trairi, por significar na língua indígena “Rio das Trairas”.


Casa da 1ª moradora da Comunidade da Marreca - Trairi

Em 19 de abril de 1913, pela Lei nº 1084 outra vez Trairi perdeu sua condição de Vila, sendo mais uma vez restaurada pela Lei nº 1181 de 23 de julho de 1914. Ainda uma vez suprimida pela Lei nº 1794 de 9 de outubro de 1920, ficando desta vez à Vila de Itapipoca. Nova restauração aconteceu pela Lei nº 2002 de 16 de outubro de 1922. Nove anos depois, pelo Decreto nº 193 a 20 de maio de 1931, foi definitivamente extinta a Vila de Trairi. Ficando pertencendo novamente a Itapipoca, depois a São Gonçalo e mais uma vez, junto com Paracuru, à Itapipoca. Até que, pelo decreto nº 64 de 7 de agosto de 1935 São Gonçalo foi elevado à categoria de cidade com o nome de Anacetuba, compreendendo também o Trairi.


Dunas da Praia de Flecheiras
TRAIRI CIDADE

Antes da emancipação para tudo dependíamos de Anacetuba (São Gonçalo do Amarante), foram tempos difíceis, décadas de escravidão. Até que uma nova geração de trairenses conseguiu elevar Trairi à categoria de cidade.



Maravilhoso Pôr do sol dourado em Flecheiras

A sua evolução política é marcada por uma trajetória repleta de instabilidades, tendo sua emancipação política em 22 de novembro de 1951 e instalado em 25 de março de 1955. Aí então Trairi começou a desenvolver-se. Hoje tem quase tudo que o povo precisa nas áreas de educação, saúde e justiça. O setor turístico também avançou e muitos visitantes vêm admirar as belas praias, a hospitalidade, a comida típica e o artesanato.


Praia de Emboaca - Trairi

Praia de Guajiru

A vida política administrativa passou pelas mãos de diversos homens, que ao longo dos anos contribuíram para o crescimento do município, constituindo o quadro de prefeitos, são eles:

Primeiro, Coronel Francisco Ribeiro da Cunha
Segundo, Raimundo Nonato Ribeiro
Terceiro, José Simões Granja
Quarto, Raimundo Nonato Ribeiro (segundo mandato)
Quinto, João Ferreira Pinto (interventor)
Sexto, Dr. José Silveira
Sétimo, Coronel José Araújo Filho
Oitavo, José Granja Ribeiro
Nono, Antonio Alves da Silva
Décimo, José Granja Ribeiro (segundo mandato)
Décimo Primeiro, Antonio Alves da Silva (segundo mandato)
Décimo Segundo, Manoel Barroso Neto
Décimo Terceiro, José Granja Ribeiro
Décimo Quarto, Manoel Barroso Neto (segundo mandato)
Décimo Quinto, Mário Freire Ribeiro
Décimo Sexto, Olga Nunes Freire Ribeiro
Décimo Sétimo, Jonas Henrique de Azevêdo
Décimo Oitavo, Henrique Mauro de Azevêdo
Décimo Nono, Jonas Henrique de Azevedo (segundo mandato)
Vigésimo, Jaime Marques Nogueira
Vigésimo Primeiro, Marilac Martins
Vigésimo Segunda, Henrique Mauro de azevêdo (segundo mandato)
Vigésimo Terceiro, Josimar Moura Aguiar


Praia de Emboaca

Trairi, em língua indígena significa: Peixes descendo as águas.

Trairi situa-se no centro-norte do Estado do Ceará.
Limita-se ao norte, com o município de Itapipoca e o oceano Atlântico, ao sul com o Município de São Luis do Curu, a sudeste, com o município de São Gonçalo do Amarante, a sudoeste, com o município de Tururu, a oeste, com o município de Itapipoca e a leste com município de Paraipaba.
Está inserido na Microrregião de Itapipoca, segundo o IBGE, que dividiu o estado em 33 Microrregiões Geográficas. De acordo com Divisão Político-Administrativa do Estado do Ceará, que estabeleceu 20 Áreas Administrativas, situa-se na Região 2 que tem como sede o município de Itapipoca.


Lagoa do Jegue

Pousada das Marés - Mundaú

Guajiru - Impressionante!

A divisão territorial do município compreende 03 distritos: a Sede, o distrito de Mundaú e o distrito de Canaã. A sede municipal, pelo rio Trairi, situa-se a uma altitude media de 18m, localizando-se nas seguintes coordenadas geográficas: 3°16´40´´ de latitude sul e 39°16´08´´ de longitude a oeste de Greenwich


Dunas


O principal acesso ao município é feito através da rodovia estruturante Costa do Sol Poente de apoio ao turismo, CE085, que o interliga à capital aos municípios vizinhos de Itapipoca e Paraipaba.

Quiosques a beira da lagoa

Situa-se na faixa litorânea do estado a oeste de Fortaleza, sendo formado por três, unidades géo-morfológicas: a planície litorânea, composta pela faixa de praia e um cordão de dunas em toda a extensão do litoral com uma largura média de 4 Km, os glacis pré-litorâneos que representam a área de maior extensão e que abriga a base da economia agropecuária municipal, e a depressão sertaneja ao sul, oeste e sudeste onde verifica-se a presença de inselbergs com altitudes inferiores a 120m.



x_3ba7ab9f



Fontes: http://www.trairi.ce.gov.br/, Livro História de Minha Terra – Como Nasceu Trairi
Autora Maria Pia de Sales – Gráfica e Editora LCR e Fotos do site http://www.mundi.com.br


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Estrada de Ferro de Baturité - Estações de Mondubim, Maracanaú e Pacatuba



A Estrada de ferro de Baturité foi a primeira ferrovia do Ceará. Iniciou a operação ferroviária em 1873 com o primeiro trecho de pouco mais de 7km entre a Estação Central, em Fortaleza e a localidade de Parangaba. Funcionou com esse nome até 1909.



A EFB foi fruto da sociedade surgida no dia 5 de março de 1870, entre o Senador Tomás Pompeu de Sousa Brasil, Gonçalo Batista Vieira (Barão de Aquiraz), Joaquim da Cunha Freire (Barão de Ibiapaba), o negociante inglês Henrique Brocklehurst e o engenheiro civil José Pompeu de Albuquerque Cavalcante.

O objetivo era o escoamento da produção serrana em Pacatuba e Maranguape para o porto de Fortaleza. Após a assinatura do contrato de construção da ferrovia entre a Companhia e o Governo Provincial do Ceará o projeto passou a ter como ponto final à cidade de Baturité, produtora de café.




A estação central, atualmente Estação Professor João Felipe foi eregida ao lado do antigo Cemitério de São Casimiro. O função de cemitério foi transferido para o Cemitério São João Batista e sob esse foi construído o escritório central e as oficinas.



Os trilhos do primeiro trecho, de 7,20 km, começaram a ser assentados em 1 de julho de 1873, sendo entregue ao tráfego em 14 de setembro de 1873. Apesar de a inauguração deste trecho só ter ocorrido em 29 de novembro do mesmo ano e a estação central foi inaugurada no dia seguinte, 30 de novembro. As estações de Mondubim e Maracanaú foram inauguradas em 14 de janeiro de 1875 e a de Pacatuba em 9 de janeiro de 1876. A situação financeira da companhia ficou ruim durante a seca entre 1877 e 1879 e as obras foram paralisadas. O Governo Imperial, através do Decreto no 6.918, de 1 de junho de 1878, assumindo a parte construída da ferrovia e os direitos da Companhia de prolongar os caminhos de ferro até o município de Baturité. Em 1910 a Estrada de Ferro de Baturité foi somada a Estrada de Ferro de Sobral criando a Rede de Viação Cearense.  


Escritório EFB

Escritório da EFB

A estação de Mondubim


A estação de Mondubim em foto publicada em 1908; à esquerda, tijolos aguardando embarque.


A estação de Mondubim foi aberta em 1875. "Ao seu lado havia uma lagoa onde os índios caçavam e pescavam. Com a chegada da ferrovia de Baturité, inicia-se o bairro do mesmo nome e alavanca-se seu desenvolvimento. Rico em olarias, de lá saíam excelentes tijolos brancos, usados na construção da própria estação" (Ney Robinson Rios Frota, 19/5/2009).


A estação em 1980

Esse prédio foi demolido em 1980 (é difícil justificar a demolição de um prédio centenário...). Uma nova estação foi construída. Serviu também como estação de trens metropolitanos até sua nova demolição em 15 de março de 2009 para as obras do metrô de Fortaleza. Os trens agora passam ali direto sem parar.


O último trem do METROFOR que parou em Mondubim, em 14/3/2009. No dia seguinte iniciou-se a demolição dessa estação com apenas 9 anos de idade, visando as obras do futuro metrô de Fortaleza (Foto Ney R. R. Frota).

A nova estação em março de 2009. À sua frente, à direita, ainda estão os escombros da antiga demolida 29 anos antes.


A Estação de Maracanaú

EFB - Maracanaú

A estação de Maracanaú foi aberta em 1875. Dali saía o ramal para Maranguape, extinto em 1964.

Foto de 1950


A estação de Maracanaú, sem data.


A estação anterior (provavelmente não era a original) foi demolida em 1984. Atualmente a estação serve como estação de trens metropolitanos.



A estação antiga e a nova, talvez em 1984



A estação antiga de Maracanaú ainda de pé e a nova, em frente. Foto provavelmente de 1984. Acervo Câmara Municipal



A estação atual, talvez 1984. A antiga ainda está de pé em frente a ela.



Demolição da estação em 1984

Estação de Pacatuba

A cidade de Pacatuba remonta ao século XVII. O povoado ali formado, no entanto, somente em 1842 foi elevado a sede de distrito. Em 1869 passa a município. "Fato auspicioso para a vida local, evidentemente, ocorreu em 1876, quando, a 9 de janeiro, foi inaugurada a estação da estrada de ferro destinada a unir a zona sul do Estado à Capital" (Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, vol. XVI, IBGE, 1959). A estação está de pé em 2010 e funciona como cartório. Segundo Rafael Almeida, há no fundo outra estação construída que funcionou ate meados de 2002.


A estação de Pacatuba, vendo-se de sua plataforma a entrada da linha praticamente no meio da mata. A casinha branca ao fundo será a estação citada pelo autor da fotografia como sendo uma outra que funcionou até 2002

A estação em 2010, já desativada há anos. Do lado esquerdo, a Serra de Pacatuba.


x_3b9d281d





Créditos: Livro Vistas do Ceará - 1908, Wikipédia e o site: http://www.estacoesferroviarias.com.br

sábado, 1 de outubro de 2011

Nonato Albuquerque - O rei da comunicação




Hoje falarei um pouco sobre esse profissional competentíssimo, de quem sou admiradora.
Além de brilhante jornalista, escritor, blogueiro, radialista e contador (porq não?) de "causos", ele é um ser humano digno de aplausos e admirado por todos!!!


Arquivo Blog Gente de Mídia


Raimundo Nonato Bezerra de Albuquerque nasceu em 2 de janeiro de 1950, em Acopiara, na região Centro-Sul do Ceará. Apresenta o programa Grande Jornal, na rádio O POVO/CBN. É também apresentador do Barra Pesada, na TV Jangadeiro. Tem vários blogs. Dentre eles, o Gente de Mídia


A partir da esquerda: Hélio Malveira, Carlos José, Angélica (hoje apresentadora da TV Globo, casada com Luciano Huck), Nonato Albuquerque (nome de destaque na imprensa cearense) e Eli Maradona no estúdio da AM DO POVO (hoje Povo-CBN). Era a primeira visita da apresentadora Angélica ao Ceará para divulgar o disco "Vou de táxi". - Diário do Nordeste

Nonato começou a trabalhar ainda cedo, como office boy, na Coletoria Estadual de Iguatu. Quando chegou à cidade a Rádio Iracema de Iguatu, ele se encantou. Saía do recreio para ir ver como era trabalhar em rádio. Aos 13 anos, foi chamado para estagiar lá. Em 1967, foi estudar em Fortaleza e começou a atuar nas rádios da Capital. Trabalhou na rádio Iracema, na FM 93, na rádio Dragão do Mar, na FM do Povo (atual rádio Mix) até chegar à AM do Povo.

Com o amigo Paulo Oliveira - Arquivo Blog Gente de mídia


Nonato é jornalista formado pela Universidade Federal do Ceará. Como radialista, atua na AM do Povo -CBN e apresenta diariamente o Barra Pesada na TV Jangadeiro. Sempre atualizado e em busca de um contato mais próximo com seu público, Nonato possui alguns blogs, dentre eles, o GENTE DE MÍDIA, que foi inclusive selecionado entre os 10 melhores blogs de 2011 pela Deutsche Welle, o ANTENA PARANÓICA e o TUITEIROS DE PLANTÃO (muito divertido e que nos deixa por dentro do que anda acontecendo pelo Twitter).  Nonato já trabalhou na Rádio Iracema de Iguatu, Iracema de Fortaleza, FM do Povo (hoje FM Mix), FM 93, Dragão do Mar AM. Como se tudo isso não bastasse, ele também já atuou na mídia impressa, trabalhando no Jornal O POVO -Caderno Vida & Arte e no Diário do Nordeste -3º Caderno.



Uma curiosidade

Foi Nonato Albuquerque quem escreveu os primeiros textos para Tom Cavalcante entregar a Chico Anysio, como se fossem seus. rs Na época, eles eram colegas de locução da Rádio Verdes Mares.


Na rádio CBN com Saulo Gomes


A morte da rainha Elizabeth

Nonato conta que, quando estava na rádio em Iguatu, se confundiu com o que ouviu na Rádio Globo e anunciou a morte da rainha Elizabeth. “Era um gravador tão terrível, velho. Ouvi apenas que morreu alguém na Inglaterra, Elizabeth, decretados três dias de luto. Aí, anunciei. Telefone tocou, era o diretor da rádio. ‘Ei, quem foi que teve essa loucura de matar a rainha Elizabeth? Eu tava assistindo agora à Globo. Quem morreu foi uma parenta da rainha Elizabeth e foram decretados três dias de luto.’” E Nonato respondeu: “Era um rapazinho que estava estagiando aqui, mas ele já foi embora”. (risos)


Na rádio CBN com Saulo Gomes


Um cearense de valor: Nonato Albuquerque em entrevista ao Jornal O Povo




A relevância do trabalho do Radialista e Apresentador Nonato Albuquerque, sua ética, sua coerência e senso crítico faz dele um cearense de destaque. O homem das várias mídias, apaixonado pelo rádio, internet e pelo público. Acompanhe a entrevista emocionada desse grande nome da comunicação cearense ao Jornal O Povo.


No contato inicial, o comunicador quis evitar a conversa. Não achou que fazia par com as tantas boas histórias contadas nas Páginas Azuis. Seria demais para ele, argumentou. Um pouco mais de insistência e, um dia depois, Nonato Albuquerque parava algumas horas para nos descrever a infância em Acopiara, a adolescência em Iguatu, a chegada aos microfones de rádio, a presença na tela da televisão e a atuação nas redes sociais. Nonato diz-se um viciado em escrever, em ler, em trabalhar.


Faz parte de várias comunidades no mundo digital. Sem contar os blogs. Na televisão, apresenta o Barra Pesada, programa policial da TV Jangadeiro. E conta que aceitou a missão por uma causa espírita (ou espiritualista) – para pagar dívidas de vidas anteriores. Logo ele, que sempre pedia, nos jornais impressos pelos quais passou, para escapar da cobertura policial.


Mas é no rádio em que Nonato mais se satisfaz. A grande paixão. É a informação que chega sem arrodeios. É só abrir o microfone. A interatividade com o ouvinte é outra marca forte, positiva, cita ele. Gosta da reação e da receptividade que o público demonstra.


Durante a entrevista, Nonato chorou de se emocionar e chorou de rir. Narrou histórias e planejou desafios. Porque o Nonato não é apenas o jornalista de rádio, TV e jornal. Nem tão-somente o espírita que ministra palestras e aconselha despropositadamente. Nem só o amante de bossa nova ou o menino grande que aprendeu a jogar de PlayStation. O Nonato é um cidadão de sensibilidade.


O POVO – Apesar de atuar em outras mídias, o rádio é sua paixão?
Nonato Albuquerque – A grande paixão. O rádio é igual ao exercício de respirar. Eu faço e nem noto. Dá uma satisfação e é uma responsabilidade muito grande. Porque tudo o que se diz tem uma ressonância enorme. Atinge um grande público, mas está desvalorizado até pela categoria.


OP – As redes sociais estão substituindo?
Nonato – Acho que não. As redes sociais deram uma agilidade muito grande ao rádio. A internet veio favorecer. As redes sociais deram um incremento a ter mais informação atualizada da cidade. Hoje, eu me pontuo muito pelo Twitter ou Facebook.


OP – Mas é um público diferente.
Nonato – Porque tem mais jovens (nas redes sociais). A grande massa às vezes não conhece nem tem internet. Mas a internet veio solidificar no rádio a agilidade que esse veículo tem. É o mais ágil veículo. Acontece um sopro de tsunami no Japão e nós já sentimos a presença aqui pela velocidade dos meios de comunicação de hoje, das ferramentas que temos. E o rádio é o primeiro a dizer. Basta abrir o microfone. Não precisa “prepara, vai maquiar o apresentador, coloca set, vai começar, atenção pessoal”… não. É rapidinho até que você possa ter mais informações. Então, o rádio é bom por isso. E o rádio integra mais. Hoje em dia, a gente já acorda ligando o televisor para ver o noticiário do telejornal, mas o telejornal de manhã ainda é um refogado das notícias da noite. E o rádio já está recebendo telefonema de ouvintes que estão no dia a dia dizendo: “Olha, eu encontrei neste momento um grande congestionamento na BR-116. Avisa ao pessoal pra pegar outros caminhos”. E o rádio é fortalecido pela interatividade com o ouvinte. O celular nos deu uma oportunidade de colocar a facilidade. Antes, você precisava sair com uma mala de som pesada, enorme, e um gravador pras ruas.


OP – Como é que você lida com as redes sociais?
Nonato – Tenho Twitter, Facebook, MSN, LinkedIn. Sou um blogueiro por conta de vício, acho que é vício. Eu gosto. Me perguntaram: “Você ganha com seus blogs?”. Não, me dá prazer estar escrevendo. Eu tenho uma coisa incrível de ter que escrever. Falar e escrever, para mim, são as duas noções da minha presença na Terra nesta encarnação. E ler muito. Exagerado até.


OP – Mas, na internet, o público é mais jovem? Já conhecia você?
Nonato – É mais jovem. Muitos me descobrem na internet: “Você é o Nonato da rádio, da televisão? E você tem blog?” Um dia desses, eu fui para uma locadora de vídeos e peguei dois games de PlayStation 3.


OP – Você joga Playstation 3?
Nonato – Pronto. Foi o que a menina perguntou: “O senhor gosta disso?” É porque não tinha na minha infância. (risos) Não tinham descoberto ainda. E eu aproveito pra aprender antes de morrer. Ontem eu fiquei jogando baralho até 2 horas da manhã. É meio doido. É atualizando o blog, é jogando baralho, é olhando a televisão, é assistindo ao Jô Soares e é daqui a pouco preparando o livro para continuar a ler. Hoje, eu li na Folha de S.Paulo que informação demais prejudica os neurônios. Os meus já devem estar um pouco prejudicados (risos).


OP – E quem é o público da TV?
Nonato – O público de TV é a grande massa. O Barra Pesada é um programa que está mais entre o público B, D. Mas, na verdade, é o grande público que ainda é ávido pela informação que fala do mal do outro que satisfaz a alguém pra se sentir bem. Tem aquela história: “Ah, o vizinho está ruim da vida. Graças a Deus”. Parece assim. Nós vivemos em uma sociedade em que a notícia ruim dá ibope.


OP – Como você se sente noticiando isso?
Nonato – Meio estranho. Eu que já trabalhei em todas as editorias do jornal e nunca quis, sempre me afastei da editoria policial, “ah, não gosto disso, não”. Quando Tancredo Carvalho me chama, eu estava no Vida & Arte, e digo “só não quero o Barra Pesada”.


OP – E por que aceitou?
Nonato – Por uma mudança de atitude que, às vezes, eu conto nas minhas conversas, nas minhas palestras. É uma história muito longa.


OP – Tem um tom espiritualista.
Nonato – É, foi uma amiga minha de fora que me anunciou. “Nonato, você vai trabalhar em televisão”. E eu: “Que nada, não gosto de televisão”. Era uma amiga espírita. “Vai haver uma grande mudança na Terra que vai precisar de pessoas ligadas a informação para atuar em uma rede de informação em que não seja preciso ampliar ainda mais a grande tragédia da humanidade. Vamos passar por momentos difíceis, a violência vai duplicar.” Tudo o que hoje está acontecendo pra mim não é novidade.


OP – E ela disse isso quando?
Nonato – Antes do Barra Pesada, seis meses antes. Tanto que, dois meses depois que eu fui chamado, fui chamado para a TV Cidade fazer um programa de notícia. Eu, Miguel Macêdo, Dílson Pinheiro, era uma equipe para um show de entretenimento. Era uma equipe fantástica que ia trabalhar. Achei o projeto fabuloso. E faltando pouco tempo, chegou uma informação: “Não, nós vamos mudar”. Já havia matéria gravada, quadro de humor e tudo. “O programa vai mudar, vai ter outro perfil, vamos precisar divulgar o nome de uma figura que vai entrar na política”. Era o Cambraia. E esse programa ia ter um tom político. Dos 10 que estavam na produção, os 11 saíram. E eu também não queria nada com política. Até hoje, eu sou avesso a política partidária. Se eu não uso o meio de comunicação como trampolim, também não vou servir de trampolim para ninguém. Telefonei para ela (a amiga) e disse: “Minha amiga, você errou. Quem lhe anunciou esse presságio, que eu ia pra televisão, gorou”. E ela: “Olha, não sei qual é o projeto, não. Mas não era esse. É um programa policial”. Novamente, em silêncio, eu disse: “Deus me livre do Barra” (risos). E a língua paga.


OP – Mas você se arrepende?
Nonato - Não, não.


OP – Sua formação ideológica, princípios e valores não vão no contrário do que o Barra mostra?
Nonato – Todo mundo vê assim, mas há coisas que a gente nem acredita. É preciso que haja dores para que haja necessidade da busca. É preciso que haja o fogo para que haja a presença humana em debelá-lo. É preciso que haja um grito de dor para que alguém socorra. Não é que eu esteja sendo assim, o salvador, um curador, o Silvester Stallone, “eu sou a cura, eu tenho a cura”. Não, de maneira nenhuma. Eu estou em um propósito que eu já me identifico do meu encaminhamento de fazer esse programa fugindo do que já caiu no policialesco. Mas ele presta um grande serviço social quando passa a tratar da comunidade. O serviço comunitário de ir aos bairros, verificar demandas, cobrar, fazer as reivindicações populares.


OP – O jornalismo de serviço.
Nonato – O jornalismo de serviço, que é o que eu faço no rádio. Então, se eu pudesse fazer na TV o jornalismo do rádio, seria muito mais conveniente. Mas tudo é etapa que um dia vai chegar. Um dia, tenho a certeza de que não vamos precisar divulgar tanto a dor quando já existirem oportunas chances de dar às pessoas as formas de elas se arregimentarem e procurarem os seus caminhos e os seus encaminhamentos.


OP – Parece que você usa sua ideologia espírita, ou espiritualista, nas reflexões do Barra.
Nonato – Não é propriamente da doutrina. Mas o conhecimento que a gente tem da vida. De que não é uma religião que salva, é uma orientação a partir do encaminhamento. Evangélico, católico, eu absorvo todos. Não faço nem questão de revelar que sou da doutrina tal, porque não considero que nenhuma religião salva. O papel importante de consciência cidadã e ética de alguém é poder transformar a própria sociedade. Se você transforma uma sociedade, é possível que você se transforme. Eu tenho a impressão de que eu consegui, e eu já vi exemplos, tocar a alma de alguém que está equivocada, tomando atitudes equivocadas no meio social. Pra mim, a grandeza do jornalismo já serviu. Nós damos palestras em colégio e o que eu mais vejo são comentários em alusão ao tom policialesco do gênero: “Esse cabra ruim deve morrer, esse elemento”, essas coisas. São atitudes equivocadas que eu evito. Muitas vezes, companheiros que fazem esse tipo de programa introjetam a linguagem policial e esquecem a linguagem jornalística. E até mesmo o respeito humano.


OP – Você humaniza mais o programa, o gênero, então?
Nonato - Dizem. Gostaria que a minha participação pudesse ter mais uma ênfase humanística nessa relação.


OP – Quando lhe chamaram e você aceitou, lembrou-se do que sua amiga havia dito?
Nonato – Me lembrei e telefonei pra ela quando completou 10 anos: “Você diz que é um compromisso meu e, para quem acredita sabe, de vidas anteriores, que eu tenho essa dívida cármica, que é o meu carma, que eu poderia estar em outros lugares e neste momento estou beneficiando a alguém que sou eu mesmo, o maior beneficiado de estar no Barra Pesada sou eu, não é a título de ser vitrine, não é aproveitar para trampolim político. É porque eu estou me resgatando”.


OP – Você já foi convidado a se candidatar?
Nonato - Uma vez, convidado diretamente. “Por que você não vem pro partido?”. Não, não é a minha praia, não. Vou lá ganhar dinheiro para, de repente, estabelecer o que o partido quer e ferir o que eu penso? Não.


OP – E o encanto pelo rádio?
Nonato – Desde pequeno, não era a amplificadora, a mensagem, o recado, a informação que me chamavam a atenção. Era saber. Era como criança que pega um brinquedo eletrônico que abre todinho pra saber como é que funciona. Queria ver no rádio isso, como é que ele funciona. E Deus me deu a oportunidade de ter uma chance, muita sorte. A vida me deu muito mais do que eu merecia. Tanto que eu estou saindo endividado por 10 vidas, talvez. (risos)


OP – Como é sua atuação com a doutrina espírita?
Nonato – Eu coordeno uma reunião do Centro Espírita João, o Evangelista. Fica ali perto do North Shopping, na rua Amadeu Furtado. Na verdade, eu frequento muitos centros, conversando e dou palestras. Eles são tão bondosos que me convidam para conversar com o público a respeito dos temas mais diversos: cristianismo, espiritismo, ética, família, violência. Os colégios me convidam para falar sobre violência e família. E nenhum mistura as coisas. Não há religião em colégio nem eu levo temas do colégio para dentro da doutrina. O que a gente faz é uma abertura de consciência. Eu tenho tão boa vida comigo que me chamam para conversar em igrejas católicas e já até dentro de igreja evangélica, e eu vou com todo o prazer. Quando a gente tiver uma consciência de todo o conjunto de informações religiosas, o conjunto doutrinário de cada uma, você concentrando naquilo que é importante, não é preciso você ser fanático de uma religião. Mas utilize o conhecimento do Cristo, a sabedoria de Buda, a fantástica concepção de mundo que tinha Confúcio, aprenda com toda a grandeza de um Francisco de Assis, da madre Teresa, da bonomia de um Chico Xavier, da grandeza de um João Paulo II. Você, tendo todos esses modelos, esses avatares da religião, acho que você muda a sua persona. Vai colocando um pouco de luz de cada ensinamento desses e você vai construindo uma atitude cidadã. E não é que eu seja santo, não.


OP – Você tem uma intuição bem desenvolvida também?
Nonato – Mediunidade? Paranormalidade? Não. Tenho nada. Tenho algumas intuições que me vêm e, quando passa, eu digo: “Eu tinha visto isso, pensado isso, sonhado com isso”. Mas não sei fazer a leitura, não. Ainda sou muito pequeno.


OP – O Nonato da rádio é diferente do Nonato da TV e da internet?
Nonato – Tem a linguagem de cada um. Rádio e televisão se aproximam mais ou menos. A linguagem do blog é muito mais ampliada, muito mais plural, embora o Gente de Mídia (blog) esteja muito mais ligado às pessoas, aos bastidores e às questões da web e da blogosfera; na verdade, e um pouco também de mim. Tem um blog, o Bangalô das Nuvens, que eu comecei para contar as experiências “místicas”, aspas, dez aspas aqui. Os sonhos, de insights que, de repente, aparecem na minha vida.


OP – Por exemplo?
Nonato – Eu tenho um grande exemplo. Eu estava na Rádio O POVO, ainda na avenida Aguanambi, e estava fazendo o programa de manhãzinha. Tinha um cidadão sentado, calado. E as pessoas iam para o estúdio assistir. Nesse dia, só tinha ele, cabisbaixo, desatento ao que estava acontecendo na programação, com um olhar perdido no estúdio. E eu, enquanto anunciei uma música, passei por ele e disse: “Não se preocupe, não. Você vai mudar. Não pense em fazer isso que você está pensando, não”. Mas eu disse de brincadeira. Como quem diz: “Menino, tu tá triste por quê? Vai melhorar”. E ele olhou pra mim: “Muito obrigado. Era isso que eu vim ouvir”. Dez anos depois, aquele jovem se encontra comigo e disse: “Você nem se lembra quem sou eu”. E eu: “Não”. “Você lembra o dia em que eu estive na Rádio O POVO, sozinho no estúdio, você passou por mim e falou? Eu ia me suicidar naquele dia”. (A entrevista é interrompida, porque Nonato para e começa a chorar.)


OP – O que fica de lição?
Nonato – Essa figura me emociona até hoje. Já faz tempo. É bom, porque é anônima, sabe? Não tem ligação. A gente tinha uma visita às delegacias e, um dia, nas orações de grupo, um jovem deu um depoimento que não falava de mim, mas contava a grandeza que deu a ele ouvir um comentário do Barra Pesada. E eu disse: “Puxa vida. Se eu pensasse em abandonar isso, ouvindo exemplos assim, eu poderia estar me traindo também numa coisa que nem foi escrita por mim”. Eu não vim pedir esse emprego. Tenho a convicção de que foi encaminhado. Poderia estar escrevendo em jornal, que adoro escrever, sempre evitando trabalhar em área policial. Mas a língua paga.


OP – O impresso, então, não encanta tanto você quanto o rádio?
Nonato – Me encanta ainda porque gosto de escrever. Um dia ainda vou relatar isso.


OP – Vai escrever um livro?
Nonato – Tenho preparado até o título, que é retirado de um poema do Jáder de Carvalho. Vou dizer aqui e, se alguém copiar e botar num livro, eu cobro os direitos autorais depois: “Todo mar azul nunca esconde tempestade”. Que tem a ver com tudo isso que falei. Não posso reclamar da vida. Dessa vida, nadinha.


OP – Qual é o desafio agora?
Nonato – Quando eu me aposentar de vez mesmo, se a vida me der oportunidade de permanecer aqui mais tempo, pretendo ficar escrevendo. Gostaria de ter um trabalho social. Na minha velhice, estar sempre atuando na parte social, seja com os meus queridos irmãos de Redenção, com quem eu tenho um trabalho junto aos grupos dos quais a gente faz parte, ou qualquer canto. Não gostaria de ficar parado em casa, não.


Entrevista concedida à Jornalista Daniela Nogueira


Participando do Programa Um contra Cem de Roberto Justus

Pouca gente sabe, mas Nonato integra grupo que leva o amor, a solidariedade e a prestação de serviço a tantos desvalidos.






x_3b902bca