Assim como no blog Fortaleza Nobre, vou focar no resgate do passado do nosso Ceará.
Agora, não será só Fortaleza, mas todas as cidades do nosso estado serão visitadas! Embarque você também, vamos viajar rumo ao passado!

O nome Ceará significa, literalmente, canto da Jandaia. Segundo o escritor José de Alencar, Ceará é nome composto de cemo - cantar forte, clamar, e ara - pequena arara ou periquito (em língua indígena). Há também teorias de que o nome do estado derivaria de Siriará, referência aos caranguejos do litoral.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Copa Suburbana





Décadas de cinquenta e sessenta. Comum os times da primeira divisão do Campeonato Cearense treinarem com equipes da periferia.

Não raro, atletas daquele nível, também atuavam em partidas de agremiações amadoras. Saudosistas, talvez, das origens esportivas.

O Usina Ceará Atlético Clube iniciou atividades no subúrbio. Precisamente, na Avenida Bezerra de Menezes, em Otávio Bonfim, integrado por trabalhadores da Indústria Têxtil Siqueira Gurgel.


Fábrica Siqueira Gurgel

Tinha no azul e no branco as cores oficiais. Por símbolo, adotou o desenho estilizado de uma fábrica, com três chaminés fumegantes e, ao fundo, uma bola com gomos, característica da época.



Usina Ceará Atlético Clube , vice-campeão de 1957


Fundado em 1949, destacou-se rápido no cenário futebolístico da Capital. Fez-se campeão da “Copa Suburbana de 1950”. Alçou, então, a segunda divisão e conquistou o título do certame um ano depois.

1953 datou seu ingresso no futebol oficial do Estado. Empolgou a torcida como vitorioso do Torneio Início de 1954. Duas vezes sagrou-se vice-bicampeão estadual. Anos de 1956 e 1957, bem como 1961 e 1962.

Encerrou, saudosamente, suas atividades no esporte em 1964.

Testemunhei, em domingueira ensolarada, no final de 1955, jogo-treino do Usina Ceará. Adversário, o 5 de Julho Futebol Clube, do bairro Demócrito Rocha, que venceu por 1 x 0. Incrível e quase impossível. Tento do quarentão Tâna. De pênalti. Último minuto da peleja. Bicão de derrubar parede. Sorte de o goleiro fabril ter-se jogado para o lado contrário da trave. Glória atlética única do “véi” em toda sua vida.

Sem tempo e preservando contusões nos jogadores, o Usina não se esforçou para reverter o escore. Zerou.


Geraldo Duarte

terça-feira, 25 de março de 2014

João Cordeiro - Um abolicionista Cearense


João Cordeiro nasceu em Santana do Acaraú, no dia 31 de agosto de 1932, falecendo em Fortaleza, a 12 de maio de 1931 aos 88 anos.
Foi Senador da República, amigo íntimo de Floriano Peixoto. Figura máxima do abolicionismo no Ceará. Político de corajosas atitudes e de enorme prestigio junto aos poderes constituídos.

Era filho de João Cordeiro da Costa e Floriana Angélica da Vera Cruz, foi considerado nas notas de Eusébio de Sousa deixadas e publicadas na Revista do Instituto do Ceará do ano de 1945 o seguinte: “invicto General da Companhia da Abolição”, foi centro gravitacional redentora do Ceará.

Considerado temperamental quando necessariamente teria que agir, não medindo esforços e nem contava o que era preciso fazer.
Tinha uma linha de conduta que até hoje não conseguimos definir, devido o seu direcionamento a tudo e a todos.
Foram vários os conceitos a sua pessoa inclusive considerando o seu Cérebro como daqueles que não raciocinava dificuldade. Vencia tudo e muito rapidamente.

Nas suas diferentes funções exercidas ao longo de sua existência, ora estava alto, mas dominantemente decidido e decidindo, superando sempre as dificuldades com o seu altruísmo.

João Cordeiro o Abolicionista, não podemos eximir das páginas de qualquer obra que venha falar de abolição, o nome de João Cordeiro; como também o republicanismo do Ceará pois deverá constar em qualquer compendio histórico. Era o Cearense inquieto e integral nos atos como também no caráter.

João Cordeiro, nas memórias que escreveu, ao correr do lápis, esclarece que foi convidado por alguns sócios da Perseverança e Porvir para fundarem uma sociedade que se ocupasse da propaganda e da abolição dos escravizados. Aceitou o convite com grande entusiasmo e com os rapazes da perseverança convocou para Palacete da Assembléia da Província, uma reunião dos abolicionistas para a fundação de uma associação, que instalou com o nome de Cearense Libertadora. Compareceu grande número de abolicionista e ele, João Cordeiro, foi aclamado Presidente e, tomando posse do cargo, deu por instalada a sociedade e nomeou uma comissão para organizar os estatutos.


Dias depois, reuniram-se os associados para ouvir a leitura destes e aprova-los mas, houve longa discussão e, para corta-la, Cordeiro declarou os estatutos que acabara de ser lido como inconveniente, não se relacionando com o pensamento do abolicionismo, nós queremos uma sociedade carbonaria, sem ligações com o governo que se ocupe da libertação dos escravos por todos os meios ao alcance dos nossos recursos pecuniários que nos convém devem ser simplesmente estes: -

· “Art 1° - Libertar escravos seja por que meio for.
· Art. 2° - “Todos por um e um por todos.

Dissolveu-se a reunião, ficando apenas duas dúzias de abolicionistas dispostos à luta que em resultado se deu à Libertação dosEscravos no Ceará.

A ideia triunfou e se formou um grupo de resistência que prosseguiu na luta, sendo de justiça destacar nomes de um punhado desse núcleo: João Cordeiro, Antônio Bezerra, Padre Frota, Justiniano de Serpa e outros. “E adianta: “Eram estes os tais libertadores, frase de mofa para traduzir a insignificância da força que pretendia demolir a torre” Malakoff do escravismo.”

Não parece certo que os nomes indicados por Isac do Amaral sejam os que ficaram na hora decisiva do juramento pedido por João Cordeiro, mas a verdade é que todos eles não saem do agitado palco em que se encena o complicado drama do extermínio da escravatura.

O grupo arrojado da Libertadora não mais sossegou nem parou. Sem demora fundaram um jornal comandado por João Cordeiro destinado à propaganda e interesse dos abolicionistas e cujo primeiro número circulou no dia 1°de janeiro seguinte ao da fundação da sociedade. Chamaram o Jornal de, “O Libertador” e adotaram o lema de Jesus – Ama ao teu próximo como a ti mesmo.

No seu apostolado, “O Libertador” não restringe as duas esferas de ação. Levanta o escravo e coloca o homem ao lado do homem. Sopeia o algoz e liberta a vitima. Tritura o orgulho do enfatuado e eleva o mérito real do filho do povo. E no vasto domínio da mentalidade humana, todo assunto lhe é próprio. Marcha com seu século, tem o mesmo movimento, e a luta faz a sua profissão de fé. Ou vencer ou morrer.

Foi assim a participação que chamamos de efetiva de João Cordeiro, que culminou a libertação dos escravos no Ceará com grandes pompas, com uma programação que constou de números literários, musicais e artísticos de um modo geral.


Ipu, CE, 03 de setembro 2001

Francisco de Assis Martins





sábado, 22 de março de 2014

Doutor Batérico


Rua Floriano Peixoto - Arquivo Fortaleza Nobre

"Rua Floriano Peixoto. Foto Ideal, propriedade do senhor Raimundo do Vale.
Defronte, com o cartaz Vende-se”, estava à joia. Jeep Willys, 1951, todo original. Parecia saído da fábrica, mesmo passada uma vintena. Adquiri-o.

No lado direito do painel, em plaqueta de alumínio, cravada, o registro do fabricante. Willys-Overland Motors, Inc. e as características do veículo.

Mais tarde, soube que a documentação registrava aquele ano porque fora o da data de venda pelo representante local. Em verdade, o fabrico teria sido entre 1942 e 1945, com base nas informações técnicas da plaquinha.

O jipinho foi um todo alegria. Parceiro de pescarias e passeios. Onde estacionava, surgiam curiosos com propostas de compra.

Certo dia, velocímetro e odômetro pararam de funcionar. Por contar milhas e não quilômetros, aparelho idêntico inexistia no mercado. Indicaram-me alguém que o poderia consertar. Então, conheci o Doutor Batérico*.

Em pequena oficina, na rua Meton de Alencar (Foto ao lado), reparava tais componentes e baterias.
Estatura mediana, alvacento, meio gordo e bem humorado. Dizendo que não via igual há muito, retirou-o do encaixe e desmontou-o, carinhosamente, na bancada.

Durante o trabalho, não parou de contar lorotas. Mesclando-as, sempre, com fatos e pessoas reais.

Pianista amador do programa radiofônico local, do passado, “A Hora da Saudade – Coisas que o Tempo Levou”, usou sua arte para fanfarronar. Dizia-se amigo de Mussolini, Franco e Stalin. E, ao primeiro, haver ensinado alguns artifícios pianísticos. Isso, sem jamais ter saído de Fortaleza. E, graças a Deus, nenhum daqueles sanguinários ditadores terem pisado na terrinha.

Jurava manter contatos com extraterrestres, inclusive, a convite deles, ter visitado a Lua, Vênus, Marte e cercanias estelares.

Garantia que um ex-comandante da Base Aérea acordara-o, em alta madrugada, para secretamente ir até aquela Unidade Militar e reparar a pane ocorrida em um disco voador visitante. Solução imediata. Logo a nave deu-se ao cosmo.

Repentinamente, parou o serviço, olhou-me e, vendo-me fardado, falou: “Tenente, o alto comando das Forças Armadas encomendou-me e eu estou montando um instrumento, de várias utilidades. Uma, das muitas, faz soldados tornarem-se invisíveis.".

Ante a um leve sorriso meu, veio dele o complemento: “Você não acredita, né? Pois, desde sua chegada, uma dúzia de testadores da minha invenção já entrou e saiu daqui.”.

Dr. Batérico fez-se personagem popular, famoso e querido em nossa Capital, devido à capacidade profissional e as absurdas e jocosas histórias que contava de forma compenetrada.

Chamava-se José Afonso Lima. Faleceu em 22 de julho de 2000, aos 95 anos de idade, vítima de hemorragia digestiva. Está sepultado no Cemitério São João Batista.

Jamais me esqueci daquela alegre manhã. Nem de outras façanhas daquele gozador bem humorado, narradas pela imprensa.

Ah! quanto ao meu também inesquecível “Truck ¼ Ton 4x4”, o pequeno herói da Segunda Grande Guerra? Tantos somaram nossos feitos que, se escritos, facilmente, comporiam incontáveis páginas de volumoso livro."

Geraldo Duarte 
 (Advogado, administrador e dicionarista).


* Em 22 de julho de 2000, morre, em Fortaleza, vítima de hemorragia digestiva, aos 95 anos de idade, José Afonso Lima, o conhecido Dr. Batérico, pianista da antiga Hora da Saudade, depois Coisas que o Tempo Levou e tinha uma oficina de recuperação de baterias na Rua Meton de Alencar.
Era famoso também por suas mentiras que contava, principalmente nos dias 1º de abril.
Foi sepultado no Cemitério de São João Batista. (Cronologia Ilustrada de Fortaleza de Miguel Ângelo de Azevedo).

Memória

Histórias dos anos 50


"No programa Noites Cearenses, produzido e apresentado por Augusto Borges, o entrevistado era o Doutor Batérico, famoso por suas histórias curiosas, como aquela do cajueiro que estava tão velho, tão velho e caducando, que em vez de caju, estava dando manga...

No programa ele se reportava a uma viagem que fizera ao Planeta Vênus e, quando exibia uma camisa comprada lá e ia dizer seu nome, o Augusto conseguiu uma fórmula para impedir:

- Sim, doutor Batérico, mas a nave voltou sã e salva?

O doutor Batérico, como o maior contador de histórias do Norte e Nordeste (tudo aqui que é melhor é do Norte e Nordeste, não é mesmo?), tinha uma capacidade incrível de improvisação, e, nessa qualidade, deu logo a resposta para o Borges, que ele entendeu mal ou quis se fazer de mal-entendido:

- Fundiu-se, doutor Batérico?
- Não, Augusto, f... mesmo!”


Do livro “Senhoras e Senhores” de Narcélio Limaverde


quarta-feira, 19 de março de 2014

Maestro Lisboa


Colégio Lourenço Filho - Arquivo Fortaleza Nobre

"Antônio Francisco Lisboa¹, nosso professor de Canto Orfeônico no Colégio Lourenço Filho, fez-se exemplo de superação às dificuldades vivenciais.

Contava-nos, por incentivo, sua vida. “Negro, feio, pobre e sem futuro tornei-me, na juventude, um sério problema para minha mãe, viúva e muito sofrida.”. Passava o dia pelas ruas e, numa dessas caminhadas sem rumo, foi apreendido e levado à Instituição Santo Antônio do Pitaguari, em Maracanaú.

Mais conhecido como Santo Antônio do Buraco, o internato público correcional era considerado rigoroso pelos internos e pela população. Falavam da aplicação de severa disciplina e obrigação de aprendizagens várias.

Ali, Lisboa, como ficou conhecido, alfabetizou-se e concluiu o Curso Primário. Em igual período, dedicou-se aos estudos da música.

Com a idade de dezesseis anos, encaminhado à Escola de Aprendizes Marinheiros, iniciou seu serviço militar na área da musicalidade.

De praça a oficial, no posto de 2º tenente, comandou a Banda de Música da EAM de nossa Capital.

Extra expediente daquela unidade naval lecionava sua arte nos principais estabelecimentos de ensino fortalezenses.

Jaques Klein e Eleazar de Carvalho ingressaram na carreira musical como alunos do maestro. Eleazar, por seu apoio, inclusive junto à Marinha, recebeu da Força, no Rio de Janeiro, suporte em prol de seu êxito nacional e internacional.

Quando de vindas a Fortaleza, a primeira visita fazia-se ao velho marinheiro. Certa feita, do exterior trouxe um diapasão, confeccionado em ouro e prata, como reconhecimento ao sempre mentor.

Aqui, merecedora homenagem ao digno e inesquecível mestre."

Geraldo Duarte 
(Advogado, Administrador e Dicionarista).

¹ "Em 19 de maio de 1974, morre, aos 87 anos de idade, o maestro professor Antônio Francisco Lisboa, oficial da Marinha de Guerra, professor de canto orfeônico no Colégio Castelo Branco, Colégio Lourenço Filho, Colégio São José e Colégio 7 de Setembro e em vários outros estabelecimentos de ensino do Ceará (o autor destas linhas assistiu suas aulas no Instituto Waldemar Falcão de Romão Nogueira Filgueira Sampaio).Foi sepultado no Cemitério de São João Batista no dia seguinte.
Hoje é nome de rua na Lagoa Redonda.
Era pai do locutor e cantor José Lisboa.
"   Nirez


sábado, 8 de fevereiro de 2014

Vereador classista


Nos pleitos municipais antigos, comum era o apelo dos candidatos para conseguir votos em suas classes profissionais ou atividades sociais. Durante as campanhas, intitulavam-se candidatos dos motoristas, professores, ferroviários, garçons, estudantes, radialistas e de atividades outras.

Passadas as eleições, fragorosamente derrotados, constatavam não ter recebido sufrágios dos colegas de profissão.

Bom lembrar a existência da máxima defendente de que toda regra possui exceção. O princípio ocorreu, pelo menos uma vez, em 1958, na Capital.

Tudo começou no Salão Guanabara, barbearia das mais conceituadas e frequentadas, localizada na rua Pedro Pereira, quase esquinando com a da Assunção. O estabelecimento, contando seis artífices, entre eles o proprietário, mestre Zé, e o secretário da Associação dos Barbeiros e Cabeleireiros do Ceará, Vicente Fon-fon, fez-se abrigo de uma ideia original. Lançariam um candidato a vereador, pertencente aos quadros da ABCC. Durante o ano eleitoral realizariam um trabalho diário, com dois colegas de cada barbearia visitando as demais, do centro e bairros de Fortaleza e, em fins de semana, as residências dos colegas. A féria do dia de trabalho dos escalados para a campanha vinha do rateio proporcional feito entre os demais trabalhadores de seus salões. Aos fregueses seria comunicada a existência do candidato, entretanto, sem insistência de pedido de voto, pois associados e seus familiares somariam mais de 2.000 sufrágios. Elegeriam o indicado, tranquilamente, por um partido de legenda menor.

Plano aprovado. O escolhido representante da categoria, integrante da Associação, filiou-se ao Partido Republicano Trabalhista (PRT). Concorreu à vereança, obteve aproximados 1.300 votos e foi eleito.

Na eleição seguinte, para o mandato de 1962 a 1966, esquecido dos iguais, não se reelegeu. A inexistência do maciço apoio da classe causou a derrota.

Candidatos têm profissões, mas tentando representá-las, não obtêm êxitos por exclusividade de voto classista. Salvo ocorra uma segunda exceção.

Geraldo Duarte 
(Advogado, administrador e dicionarista).