“Mulhé! O Brasil arrivirou. O gunverno vai trazê médico das estranja pru sertão! Vai dá pelos peito dum peba gordo!”.
Dia amanheceu com Jove na porta da casa do mais esclarecido cidadão do povoado. Professor Felisberto.
O mestre disse conhecer a notícia. Programa Mais Médicos. Em pausado linguajar explicou detalhes ao agricultor.
A solução não era simples. Ali, naquele grotão, não havia posto de saúde, aparelhamento, enfermeira, atendente, auxiliares, medicamentos, nem outras exigências mínimas para o objetivado.
De que serviria a presença de um profissional da medicina? Mesmo que os tais doutores, originários de países vários, falassem a língua praticada em nossa Pátria, nos compreendessem e fossem compreendidos, entenderiam os regionalismos? Precisariam de intérpretes? Inclusive, com conhecimentos folclóricos ou populares?
Complementou citando consulentes queixosos de “amarelão, amojamento, antoje, arroto choco, azedume, berruga, deitar lombriga, coceira entre o ventoso e o penoso, comichão, curuba, dor do comprido que desce pro redondo, espinhela caída, formigado, friviação ardida no mucumbu, nó na tripa, pilôra, coceira na tripa gaiteira, tremelique, vento preso e centenas de outros termos do Dicionário de Medicina Popular, de João Conrado e Olimar Filho.
No dizer do velho e sempre replicado refrão de Colorau, lá dos Inhamuns, “Tá muito difícil, tá muito difícil!”.
Geraldo Duarte
(Advogado, administrador e dicionarista)
O Ministro da saúde esta semana num debate à entidades médicas disse o seguinte: "Lá no alto sertão, uma criancinha doente numa rede, sem ter quem atualmente lhe dê assistência vai com certeza morrer, agora com médicos elas as crianças vão ter assistência, vai ser diferente"! (Obs. discurso não "ipsis litteris") Vai, a diferença a criança vai morre com um médico profissionalmente impotente na "beira da tipoia."
ResponderExcluirZé
Cidadão brasileiro