Terá o mandacaru “fulorado”, nesta sequidão, indicando “chuvoeiro”? Quanta saudade do Gonzagão e do Zé Dantas no baião Xote das Meninas.
Quanto à Fundação Cearense de Metereologia e Recursos Hídricos, a sempre cautelosa Funceme, de um pé à frente e outro atrás, não afirma que sim, também que não e, muito antes, pelo contrário.
Noutros tempos, quando o vidente das chuvas e das secas Roque Macêdo ainda não havia partido para o Oriente Eterno, tais dúvidas podiam-se aclarar.
Aquele farmacêutico, devotado observador e estudioso dos mistérios da natureza, precipuamente dos pluviométricos, com a sabedoria que Deus lhe deu, teria respostado as dúvidas, desde final de outubro do ano velho ano.
A busca de carrapatos em sovaco de peba. O rumo nascente ou poente da boca dos formigueiros e da casa do João-de-barro. A suadeira madrugadora de bovinos, equinos e suínos. As resinagens do cajueiro e do marmeleiro. O “céu de carneirinhos”. O halo lunar. Os vôos das vespas de cupins em fins de tardes. E inúmeras outras de suas observâncias e experiências diriam do futuro dos plantios, dos roçados.
Anunciado o porvir da situação climática pelo sábio Roque, a mídia da época difundia-a com especial destaque. Chamadas de primeira página dos jornais. Não me ocorre erro de suas previsões.
Quando a indesejável desgraceira da seca ameaçava, clamava-se pelo insólito. Por práticas místicas as mais incríveis. Valia o tudo ou o nada.
À falta dos “dançadores da chuva” apaches, cheyennes, navajos, comanches e outros, personagens das vidas real e cinematográfica norte-americana, surgiu um remédio caseiro.
Buscou-se um pernambucano, radicado e amante de Fortaleza, nascido aos 11 de outubro de 1913. Portando, em breves meses, o completar do centenário de sua grandiosa e benfazeja chegada a Terra.
Cientista, médico graduado em 1938 pela Faculdade de Medicina de Recife, professor universitário de Química, Fisiologia e Bioquímica. Um dos fundadores da Universidade Federal do Ceará (UFC). Radioamador que transformou essa sua diversão em serviço social de relevância inestimável.
Também lecionou na Faculdade de Farmácia e na Escola Preparatória de Fortaleza (EPF), hoje Colégio Militar, além de ter fundado o Instituto de Metereologia do Ceará, agora Funceme, tendo sido seu primeiro diretor.
Grandemente preocupado com os trágicos cíclicos problemas ocasionados pelas estiadas, no Ceará e no Nordeste, deu-se, diuturnamente, ao estudo do fenômeno e suas possíveis decifrações, soluções ou amenizações.
Criou adaptações e técnicas inéditas capazes de permitir, a baixos custos, nucleação artificial na atmosfera, sobre a região semiárida do País. Isso, em 1951.
Constituiu e liderou equipe integrada pelo engenheiro Janot Pacheco e os agrônomos Abner Gondim e Mauro Botelho com o objetivo de provocar as “chuvas artificiais” e formar uma mentalidade nova para o enfrentamento da problemática.
Os anais da Força Aérea Brasileira historiam as adaptações realizadas em aeronave sua, pelo professor e oficiais da FAB, conseguindo o pioneirismo de conseguir pulverizar uma solução composta por gelo seco, iodeto de prata, negro de fumo e cloreto de sódio, sobre as camadas nublosas, mesmo as tênues.
Menor que fosse o resultado pluvial tornava-se exitoso. Um pequeno e único aviãozinho provocando, mesmo respingos, já seria acontecimento máximo em meado do século XX.
Registre-se, aqui, o replicar, setenta anos depois, em localidades padecentes de estiagens nos Estados Unidos, de ações muito assemelhadas as de nosso homenageado.
Falecido em 1977, o professor-doutor-cientista João Ramos Pereira da Costa, de quem todos nós, cearenses e nordestinos, somos permanentes devedores e rendemos preito, neste seu Centenário de Nascimento, imaginando-o nosso, com maiúsculas, Fazedor de Chuvas.
Geraldo Duarte
(Advogado, Administrador e Dicionarista)
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