Nos pleitos municipais antigos, comum era o apelo dos candidatos para conseguir votos em suas classes profissionais ou atividades sociais. Durante as campanhas, intitulavam-se candidatos dos motoristas, professores, ferroviários, garçons, estudantes, radialistas e de atividades outras.
Passadas as eleições, fragorosamente derrotados, constatavam não ter recebido sufrágios dos colegas de profissão.
Bom lembrar a existência da máxima defendente de que toda regra possui exceção. O princípio ocorreu, pelo menos uma vez, em 1958, na Capital.
Tudo começou no Salão Guanabara, barbearia das mais conceituadas e frequentadas, localizada na rua Pedro Pereira, quase esquinando com a da Assunção. O estabelecimento, contando seis artífices, entre eles o proprietário, mestre Zé, e o secretário da Associação dos Barbeiros e Cabeleireiros do Ceará, Vicente Fon-fon, fez-se abrigo de uma ideia original. Lançariam um candidato a vereador, pertencente aos quadros da ABCC. Durante o ano eleitoral realizariam um trabalho diário, com dois colegas de cada barbearia visitando as demais, do centro e bairros de Fortaleza e, em fins de semana, as residências dos colegas. A féria do dia de trabalho dos escalados para a campanha vinha do rateio proporcional feito entre os demais trabalhadores de seus salões. Aos fregueses seria comunicada a existência do candidato, entretanto, sem insistência de pedido de voto, pois associados e seus familiares somariam mais de 2.000 sufrágios. Elegeriam o indicado, tranquilamente, por um partido de legenda menor.
Plano aprovado. O escolhido representante da categoria, integrante da Associação, filiou-se ao Partido Republicano Trabalhista (PRT). Concorreu à vereança, obteve aproximados 1.300 votos e foi eleito.
Na eleição seguinte, para o mandato de 1962 a 1966, esquecido dos iguais, não se reelegeu. A inexistência do maciço apoio da classe causou a derrota.
Candidatos têm profissões, mas tentando representá-las, não obtêm êxitos por exclusividade de voto classista. Salvo ocorra uma segunda exceção.
Geraldo Duarte
(Advogado, administrador e dicionarista).
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