16 de julho de 1961
Naquele domingo, a cidade amanheceu festiva, com seu povo eufórico, vestido com a melhor roupa, para subir o “Alto”, rumar para o Campo de Aviação e aguardar o governador. No caminho, porém, uma parada no monumento que tanto reivindicara, a ponte sobre o exuberante rio que a dignifica. Daquela edificação branca, com sessenta metros de comprimento por oito de largura, em concreto e com fundações em estacas pré-moldadas, as lembranças das travessias difíceis, das grandes cheias, contemplando os coqueirais e os morros que os cercavam.
Pouso Complicado
A ventania estava forte quando, às nove horas, avistou-se o “teco-teco”, que dava voltas em torno da pista improvisada, pois tinha dificuldades para aterrissar no “piper” de piçarra, a qual, apesar do susto, felizmente foi concluída sem acidente. Na comitiva, as maiores autoridades eram o governador do Estado, Parsifal Barroso, e o representante do Departamento Autônomo de Estrada e Rodagens (DAER), Caio Studart. Na recepção, o vigário da Paróquia de Nossa Senhora do Livramento e o chefe político de Trairi. Resolve-se, contudo, evitar as formalidades e um verdadeiro cortejo humano, autoridades e a comunidades, caminharam até o centro da cidade.
Manchete do Diários Associados em 17 de jul de 1961. |
Passeata pela Cidade
Sempre ao lado de Padre Alberto Viana e do presidente da Câmara dos Vereadores, José Granja Ribeiro, o chefe do Executivo estadual inaugurou a Ponte Deputado Vilmar Pontes, alusão ao político, de origem de Massapê, que encaminhou o projeto aprovado pela Assembleia Legislativa, viabilizando a obra, embora outros também viabilizaram recursos, como Eritides Martins e Perilo Teixeira, ainda que com divergências políticas. Lembrando que o médico Dr. Auricélio Pontes representou a família do deputado homenageado.
Após a inauguração, a passos rápidos, dirigiram-se à Matriz do Livramento, onde o governador orou, segundo o próprio pedindo “por ele e pelo município”, terra em que estivera, quando, aos 25 anos, iniciava as carreiras de advogado e professor do Liceu do Ceará. Depois de ouvir os pedidos de Padre Alberto, constaram visitas ao Grupo Escolar Raimundo Nonato Ribeiro e à velha Cadeia Pública, em precárias condições, do lado direito do casarão dos Granja.
Recitação e Reivindicações
Já na residência de José Granja, o coral do Grupo Escolar recepcionou a comitiva com cânticos ensaiados por Dona Olga Ribeiro, Maestro Silva Novo, e pelas professoras. Algumas reivindicações foram feitas ao governador, que retribuiu os manifestos de carinho, prometendo reformar a Cadeia Pública (na verdade foi construída outra), reequipar a escolar e melhorar o acesso até o vizinho São Luís do Curu. Já a pequena Ângela Freire Ribeiro, filha de Zé Granjinha e de Olga Nunes Freire Ribeiro, recitou um belo verso, recebendo o carinho de Parsifal Barroso.
Promessas
“Não sabia que jamais havia estado em Trairi um governador. Somente agora posso medir esta alegria que, de fato, senti em todos os semblantes, esse abrir de corações que, por toda a parte, palpitou bem perto mim, fazendo-me o vosso contentamento. Assim, a data de hoje é histórica, porque é a primeira vez que um Chefe do Executivo vem a Trairi. E por que é essa data é histórica? Deve ser porque, como disse o vigário, Padre Alberto, a data que marca um nova vida , abrindo uma nova perspectiva, dando a todos a confortadora certeza de que os problemas de Trairi começaram a ser conhecidos e atendidos. Estabeleçamos aqui um pacto cordial e sagrado, de sempre marcharmos juntos para a conquista dos benefícios de que necessita esta terra generosa”.
Passeata sobre a ponte. Diários Associados - 17 jul 1961. |
Conforme o historiador, Professor Batista Santiago, “havia um aparato artesanal com estrutura apenas de madeira. Era um grande jirau de carnaúbas. Sobre elas as pessoas atravessavam o rio, usando todo seu equilíbrio e com muito medo de facilitar e cair, principalmente quando o rio estava cheio. Era um risco tremendo. Imaginem como era complicado. Mas muita gente passava, levados por determinadas necessidades. Quem no inverno tivesse que apanhar transporte no outro lado do rio, tinha que caminhar pela antiga Rua dos Cururus (hoje Tolentino Chaves) até o local desejado. Muitos paravam na casa do saudoso Cortiço, cuja casa era a última da citada rua, nas proximidades do atual posto de gasolina. Cortiço era homem hospitaleiro e prosador. Dava gosto chegar à casa dele”.
Caminhada pela Rua dos Cururus (atual Tolentino Chaves). Jornal O Estado de 18 de jul de 1961. |
Grande cortejo rumo ao Centro. Diários Associados de 17 de jul de 1961. |
Da Igreja para o Grupo. Diários Associados 17 de jul de 1961. |
“Durante o período do verão, não precisava de ponte; o rio baixava o nível e até ficava seco naquele trecho, facilitando os pedestres, cargas de animais e algum jeep ou caminhão misto passarem tranquilamente. Já no inverno, nenhum veículo chegava às ruas de nossa cidadezinha. Todo veículo ficava do outro lado, precisamente nas proximidades da casa do Sr. Zeca Tibúrcio, onde, no período ficava localizada a Agência de venda de passagens. Que velho tempo!”
Obs: As matérias publicadas nos jornais pesquisados não citam o nome do prefeito Antônio Silva.
Fontes: Jornais Correio do Ceará, O Estado e Tribuna do Ceará.
Agradecimento: Professor Batista Santiago.
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